O coração nem sempre escolhe por quem se apaixona. O turbilhão todo simplesmente acontece e quando menos se espera já estamos com cara de bobo fantasiando sobre uma mensagem qualquer. Não dá para arquitetar uma lista de tudo de bom que gostaríamos de encontrar em alguém para estar ao nosso lado e ir fazendo o check list. Infelizmente, não é assim que o jogo do amor funciona. Com sorte, esbarramos em uma pessoa com todos os predicados que sempre sonhamos. Mas, na grande maioria das vezes, o que nos encanta é aquilo que foge do óbvio e muito comumente procuramos no outro o reflexo das qualidades que carregamos dentro de nós mesmos.
Quando isso acontece, quando o coração da gente bate mais forte por alguém que possui mais semelhanças com o nosso “eu” do que gostaríamos é essencial se apegar aos pontos que realmente importam numa parceria e deixar o “mimimi” completamente de lado. É um exercício e tanto para a maturidade do casal. Esta não é uma relação de libra com escorpião em que rola um equilíbrio de forças, vontades e temperamentos. Se envolver com um gênio quase tão indomável quanto o nosso é explosão de áries com lua em touro. E ressalto ainda que bater os “chifres” não vai amenizar os ânimos do relacionamento. A chave do sucesso está em compreender a situação, avaliar os pontos de conflito e traçar estratégias para que a vida a dois seja saudável.
Aliás, conhecer pessoas parecidas com a gente é um excelente processo de autoconhecimento. Nada pode ser mais revelador na vida do que dividir os dias com alguém que é quase um reflexo daquilo que emanamos para o universo. Sabe aquele detalhe forte da sua personalidade que você nega até a morte que exista, mas que inegavelmente salta às vistas durante uma discussão? Talvez você só assimile de verdade que isso acontece quando sente na pele as consequências de tais atitudes. O amor está aí não apenas para atravessar de mãos dadas a estrada dos tijolos cor de ouro. Bonito mesmo é se ver pelos olhos do outro e se permitir transcender como ser humano, como parceiro e como parte integrante de um todo bem maior.
A questão é que ninguém precisa desistir de se relacionar com alguém só porque ambos possuem personalidades difíceis. De fato, o caminho até o estabilização é árduo e um pouco mais complicado do que o relacionamento entre duas pessoas que possuem conceitos complementares. Isso diz muito mais sobre quem somos do que sobre a relação em si, afinal de contas se incomodar com uma característica do parceiro que nos é tão familiar é indício de que algo no nosso interior precisa de uma reflexão bem sincera e, porque não, de uma tremenda reformulação. Amor bom é aquele que nos resgata. Nem que seja dos nossos próprios descompassos.
Confesso que eu acho este tipo de relacionamento o que tem de mais lindo e genuíno por aí. Duas pessoas que parecem ser completamente distintas, quando na realidade são extremamente similares batalhando juntas em prol de um objetivo máximo: ser feliz a dois. É preciso trabalho em equipe, mas nada que seja impossível de contornar. Passado o período de adaptação o resto é aprendizado e constância. Tudo fica mais simples quando limitamos onde termina o eu e onde se inicia o nós. O tempo, sempre maravilhoso, costuma colocar de jeito as coisas no seu devido lugar. Digo isso com propriedade de quem é áries casada com áries. E por aqui quando o fogo de Marte começa a subir a gente se lembra com carinho e paciência como tudo começou: calma, respeito, cumplicidade e uma taça bem grande: seja de amor, seja de vinho.
