Perdoar, entender, aceitar a realidade do outro é uma dádiva. Praticamente um dom que nos permite analisar uma determinada situação com mais clareza e discernimento e abre a portinhola da gaiola que nos mantém reféns de um bocado de incertezas. Digo isso porque é difícil demais (demais mesmo) desconsiderar certas bagagens que “perseguem” as pessoas que caminham ao nosso lado. Acontece que ou a gente abraça o todo e segue em frente, ou deixamos as nossas parcerias serem consumidas por algo que simplesmente já foi.
Quem nunca cometeu um deslize sequer que atire a primeira pedra. Falou alguma coisa que não deveria, tomou uma atitude inesperada por impulso, magoou alguém sem pretensão ou foi um babaca mesmo em um momento da vida completamente diferente. Somos feitos de inúmeras fases e são exatamente elas as responsáveis pela formação do nosso caráter e da nossa integridade. Erramos mesmo, sempre, muito. Faz parte. Aquele (a) que decidir dividir conosco a travessia precisa saber discernir qual batalha vale a pena comprar.
Você escolheu namorar um cara que possui um histórico nada monogâmico, então sossega e confia que com você será especial. Não adianta absolutamente nada insistir a todo custo neste relacionamento se for para pressionar, viver cheia de angústias, ter crises de ciúmes a todo o momento, sair para espiar o namorado escondido. Isso não é saudável para ninguém. Não estou dizendo para fazer origami de papel de trouxa. Mas, se você optou por ficar com uma pessoa que traz alguns desvios de comportamento que não batem com você é essencial entrar nessa jornada de coração tranquilo. Cada situação é única, deixe para surtar quando realmente existirem motivos para isso e viva o presente acreditando que o ontem não vai se repetir. Senão enlouquecemos!
O mesmo vale para os relacionamentos mais longos em que a pessoa comete um descuido com seis meses de relação e será martirizada pelo resto da vida. Se o casal decidiu continuar junto apesar do que aconteceu, independente se foi uma palavra mal dita ou se foi uma traição, não existe um meio termo: ou ambos superam o ocorrido ou a porta da rua é serventia da casa. Não dá é para carregar nas costas o peso de vários aborrecimentos acumulados sem um prejuízo enorme para o relacionamento. É decidir lá dentro da alma da gente se é possível passar por cima e só aí continuar.
O que muita gente não sabe é que está tudo bem em admitir que não consegue esquecer e enterrar o passado. É um processo mesmo, muitas vezes longo e dolorido, que não pode ser apressado. O ponto é não exigir demasiado de si e ser coerente com o que a parceria pede no momento. A escolha sempre é nossa e a gente se esquece disso lá naquele instante de descompasso. Se a coisa toda está além dos nossos limites de compreensão o primeiro passo é assumir isso para o mundo e devolver para o universo aquilo que não te conforta mais. Doa a quem doer.
Mas, se a maquinaria tem conserto entregue a chave nas mãos do martelinho de ouro, liberte as amarras que sufocam a sua vida a dois e faça as pazes com o que deveria ter ficado lá atrás. Remoer infinitamente uma frustração não mata apenas o que chamamos de relação, também envenena aos pouquinhos o que existe de mais bonito e transformador dentro da gente, o alicerce que mantém a nossa estrutura sólida perante tantas adversidades: a capacidade de recomeçar o amor sem ressalvas, sempre e “apesar de”.