Perdi peso. Muito peso. Toneladas, talvez. E não fiz dieta alguma, acredite se quiser. Não cortei glúten nem lactose nem farinha branca nem sódio nem… Não comecei a realizar exercício aeróbico em jejum nem me matriculei na aula de Zumba. Longe disso! O que eu fiz? Apenas parei de me comparar aos outros, comecei a me forçar a pensar com a minha própria cabeça e desisti de querer o que eles têm – e que vive a ser vendido por aí como “sucesso”. E estou de alma flutuante, pode apostar, sem aqueles transatlânticos que eu carregava nas costas porque queria, a todo custo, atingir modelos totalmente desnecessários à construção da minha felicidade e, em muitos casos, até mesmo inalcançáveis.
Não quero mais ter o corpo “perfeito” do Cristiano Ronaldo. Não mesmo. Agora eu sei: meu sorriso não depende nem um pouco de um abdômen rasgado para nascer. Além disso, para conseguir uma taxa de gordura corporal baixíssima como a do CR eu teria que abrir mão de prazeres verdadeiros – ou reduzi-los drasticamente -, atividades que me deixam alegre e fazem sentido em minha vida; como a cervejinha semanal com os amigos e a pizza (com borda e tudo) que vivo a abater com a namorada. Hoje, quando me olho no espelho, gosto do que vejo, com barriguinha e tudo. Gosto porque não tenho mais a meta de conseguir um corpo de capa de Men´s Health. Gosto porque, em minha opinião atual, um corpo de sucesso é aquele que está saudável e apto à realização das atividades que me dão prazer, como longas caminhadas exploratórias (adoro descobrir cidades a pé quando viajo) e saltos empolgados em shows de rock.
Não quero mais ser CEO de uma multinacional. Se você está pensando em me contratar, desista já, risque meu nome da lista. Um dia eu quis mandar na porra toda de alguma corporação, assumo. Hoje, porém, compreendo que esse sonho engravatado nunca brotou de dentro de mim: fui ensinado, desde muito novo, a persegui-lo com unhas dentes, custe o que custar – até mesmo saúde! -, independente do que dizia meu coração. Todos os exemplos de seres bem-sucedidos que cresci vendo (em filmes, novelas, papos da família…) ocupavam cargos importantes em empresas “importantes” – para quem, cara pálida? -, tinham mulheres simétricas com aparência de Barbie e dirigiam carros luxuosos. Então, como muitos, eu fui no embalo, sem ao menos questionar. Por muito tempo, senti-me frustrado por não ser um daqueles caras que conseguem juntar o primeiro milhão antes dos trinta. Sentia que estava ficando para trás no tabuleiro do Jogo da Vida. Então, eu percebi: ser profissionalmente bem-sucedido é algo bem relativo, e não necessariamente o que divulgam na Você S/A, manja? Sucesso, a meu ver, é não passar a maior parte do dia realizando algo que odeio, como muitos fazem em troca de dinheiro, status social e outros ouros de tolo; é deitar na cama no final do dia com a sensação de ter feito algo relevante e sincero; é ter tempo livre para compartilhar com gente e bichanos que amo; é notar que meu trabalho, além de prazer, gera reflexões nas pessoas e, com sorte, mudanças positivas. É isso! Sou, com certeza, profissionalmente bem-sucedido, mesmo longe do radar dos headhunters.
Não quero mais roupa de marca. Se pagar caro para ter um jacaré estampado no peito faz sentido a você, tudo bem, vá em frente. Para mim, porém, é a maior das besteiras, o mais empobrecedor dos gastos. Por muito tempo eu fui refém dos mandamentos consumistas da publicidade; acreditei que havia, de fato, uma relação entre estar bem-vestido e usar roupas de grife. Hoje, no entanto, eu não estou nem aí para etiqueta ou para o traje que veste o bonitão do comercial. E vou além: não me sinto bem quando viro (devido a um presente recebido) outdoor ambulante de alguma marca que nada diz sobre o que sou. Prefiro as roupas que, de alguma forma, representam-me; como camisetas de filmes/bandas/literatura que curto. Saca? E amo as roupas básicas, as baratinhas, confortáveis e sem erro. Ainda em relação às roupas: eu queria sempre mais, mais, mais… Queria porque, por algum motivo, acreditava que ter me satisfaria. Não conseguia voltar do shopping sem, ao menos, uma sacola. Admirava aquelas pessoas que possuíam closets imensos e lotados de roupas. Porque, afinal de contas, vivem a mostrar por aí – principalmente na TV – closets transbordantes como exemplo de sucesso, não é mesmo? Mas, para mim, a coisa felizmente mudou de figura: meu sucesso, agora, é aprender a ser feliz com o necessário, focar menos tempo e energia no “ter” e investir mais em coisas que incrementam o “ser”. Compreende? Sucesso, para mim, é abrir mão de um casaco novinho sem sofrer por saber que alguém, com ele, sofrerá menos. Sucesso, em meu ponto de vista, é investir mais em coisas que vão vestir a alma. Tá ligado? Não estou dizendo que vou sair por aí todo dia com a mesma camiseta, toda furada e suja. Não é esse o ponto. O lance é: percebi que, em relação à moda, minhas necessidades são totalmente diferentes daquelas que vivem a me bombardear. O mundo deseja uma casa grande para empanturrar de bens? Foda-se! Eu quero uma vida que caiba em uma mala de mão. Descobri que preciso de pouco, muito pouco, para me sentir bem, bonito e confortável. E isso dá uma leveza que você nem imagina. Ou imagina?
Não quero me casar nem ter filhos. Não quero, oras. Se você quer, quem sou eu para fazê-lo desistir? Eu NÃO quero. Já quis, confesso. Quis porque, da forma que diziam, o “combo casamento + filhos” sempre me pareceu uma etapa essencial e “impulável” para alcançar a completude da vida. Mas não é, juro. Para mim, por exemplo, essencial mesmo é viajar, conhecer o mundo, mergulhar de peito aberto no desconhecido. E isso me basta, satisfaz-me. Não me comparo mais ao meu primo que casou e, no Natal passado, apareceu com um cabeça de joelho. Estou farto dos velhos e questionáveis parâmetros! Parei de me sentir um contraventor por ter optado por um modelo diferente e sem fraldas borradas. Você me entende?
Hoje eu ouço mais o meu coração e dou pouca bola àquilo que tentam me empurrar goela abaixo, como se todos os seres humanos fossem idênticos e possuíssem as mesmas necessidades. Não quero mais ser o número um, superar o impossível e outras coisas que um dia desejei por influência dos comerciais de grandes marcas esportivas. Não quero mais competir num jogo ilusório que, se pensar bem, não me trará satisfação ou aprendizado. Minha onda, agora, é bem mais simples: é pescar a felicidade – e encontrar maneiras de dividi-la! – dentro daquilo que já tenho, independente da “felicidade” que tentam me vender em dez vezes sem juros.
Hoje, como disse no começo deste texto, peso muito menos. Muitos regimes idiotas depois, que fiz apenas por achar que um corpo de capa de revista me traria alegria – e não por saúde, como penso que deve ser -, descobri que a leveza mais importante é a da alma, e que o resto, bem, o resto é só barriga (resultado inevitável de momentos memoráveis regados por vinho e macarrão).