• Ela aprendeu a morar nela mesma 

  • Ela aprendeu a morar nela mesma 



    Bem complicada essa menina, do tipo que inspira letras de rock, que tem tatuagens nos braços, nariz empinado e coração sedento. Não tem lógica essa menina, com cabelo preso por headband, mochila nas costas e poesia no bolso. Essa menina que acende cigarro, vestindo moletom dos Stones e ouvindo Maria Bethania.

    Que acorda perto do meio dia e sorri para o sol enquanto almoça torradas com manteiga. Que lê Bukowski, guarda na memória os trechos, mas chora com roteiro de comédia romântica-água com açúcar, em domingos de chuva. Que se apaixona sem medo, porque sempre acredita que na próxima dará certo, ou que existe um final feliz esperando, pacientemente, do outro lado da rua. Que se decepciona, quase sempre, mas não deixa que o cinismo dê conta da esperança.

    Louca demais essa menina que fala inglês, pragueja em português e pede socorro em silêncio, com olhos delineados de tempestade. Ela não tem medo ou frescura. Encara a vida de frente e compra briga por quem ama, sempre. Essa menina anda de mãos dadas com a solidão, mas não se deixa vencer por ela. Mantém o coração aberto, ainda que vulnerável. Cresceu acreditando em príncipes e, embora não admita, ainda se esforça diariamente para crer neles, sem se permitir despedaçar com a mediocridade dos desencontros em cada novo encontro.

    Não tem como segurar essa menina que atravessa meio mundo com uma mala pesada e sem medo de desafiar a geografia.  Que segue em frente com seu batom vermelho manchando a xícara de café preto. Cheia de saudade, ela deságua sua maré em doses noturnas de tequila e rebate a ressaca do dia seguinte com brigadeiro e musica com cheiro de naftalina.

    Ela é contraste, rompeu completamente com a simetria e tem muito dela, dentro dela mesma. Tem que cavar fundo demais para realmente encontrar. Não tem paciência para nadar em superfícies rasas, muito menos com quem  mantém a água nos tornozelos. Quer alguém que mergulhe fundo com ela e que a salve de afogar nela mesma. 

    Tem caos dentro dela, apesar da passividade no rosto. Tem turbilhão, apesar do sorriso nas fotos. Se encontrar essa menina, abrace apertado, enrosque-se na cintura dela e a esconda no peito para que ela queira ficar. Porque se afrouxar, ou a segurança for pouca, ela vai embora e você nem percebe como. Porque ela é feita de idas, ela tem sua fé no amor como casa, e sem amor ela é sem teto. Essa menina passou a ser mulher quando olhou para si, quando se enxergou e descobriu que poderia, apesar da bagunça costumeira, morar nela mesma. 

    ass-  loui


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