• Mentiras sinceras não me interessam
  • Mentiras sinceras não me interessam


    Eu já sabia quem ele era, mesmo que jamais houvesse ousado perguntar – talvez por medo, é verdade, mas muito mais porque prefiro descobrir sozinha. É que essas coisas a gente saca no ato.

    Eu sabia que ele não era muito de coraçõeszinhos no facebook, o que quase chegou a me deixar triste, porque sou a louca dos coraçõeszinhos, mas me atraía o jeito como ele podia dizer qualquer coisa sem nunca medir as palavras.

    “Você tá chata pra caralho hoje, vamos dar uma volta.” “Eu não concordo com você” “Eu tô puto pelo que você me disse ontem, mas vai passar”.

    Ele dizia essas coisas sem cerimônia e, pelo que eu me lembro, sem um resquício sequer de grosseria. Era uma espécie de constatação honesta e salutar, como dizer pra a sua melhor amiga que o cara de quem ela gosta não está tão a fim ou que talvez a roupa dela esteja inapropriada.

    O tipo de sinceridade que todo mundo precisa, inclusive nos relacionamentos – principalmente nos relacionamentos, eu acho – mas que tem sido deixada de lado por uma espécie de etiqueta incompreensível.

    Em todos os picos de sinceridade absoluta, ele poderia ter dourado a pílula.  Poderia ter dito o que queria dizer com palavras mais doces ou simplesmente não tê-las dito, mas, se fosse assim, eu jamais acreditaria tão piamente quando ele me dissesse que eu sou linda ou que adora o jeito como eu expresso com clareza o que estou sentindo ou pensando.

    A sinceridade tem essa vantagem: ela é universal. A pessoa que te diz que você está chata pra caralho é a mesma a quem você recorre quando precisa de uma opinião verdadeiramente sincera.

    Ser honesto é, portanto, a coisa mais fofa que você pode fazer pelo outro. Melhor do que café na cama, melhor do que flores mortas e, pasmem, mesmo pra mim, melhor que coraçõeszinhos no facebook.

    Talvez ele não estivesse tão interessado (você só consegue ser você mesmo quando não tem nada a perder), então eu suponho que ele deva perder essa qualidade incrível quando está realmente apaixonado por alguém.

    Gente apaixonada fica cheia de dedos, cheia de meias palavras, cheia de longas explicações, e o mundo seria mais fácil se a gente conseguisse ser a gente mesmo quando o coração implora por uma fantasia doce.

    Mas, é verdade, não dá. Quando nos apaixonamos ficamos menos sinceros, embora esteja tudo escrito na nossa testa. A gente perde a acidez afrodisíaca da autenticidade.

     Um desperdício, eu diria.

    ass-nathalie


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