Eu acho que amor é aquilo que a gente exerce quando está com vontade de fazer outra coisa. Porque fazer exatamente aquilo que a gente quer é muito fácil. Difícil mesmo é sair da nossa zona de conforto e vestir um papel que às vezes a gente não está muito a fim de incorporar naquele momento: o de companheiro(a). Tem a festa da tia, o almoço com os amigos desconhecidos do namorado, o casamento da amiga, a visita à casa da sogra no final de semana, coisas que tem hora que simplesmente a gente não está a fim de fazer. Acontece que pelo bem da relação, é preciso. Não estou dizendo que relacionamento é uma prisão sem liberdade de escolha, pelo contrário, amores devem ser sempre parcerias. E parcerias meus caros, requerem muito mais do que estar ao lado apenas da alegria, na saúde e no “oba-oba”.
A parte chata, que ninguém quer fazer, também precisa ser abastecida. A vida é muito clara ao mostrar que se você não quer, meu bem, no meio do caminho vai ter alguém que queira. Tudo que se espera de uma relação é que ela possa ser acima de qualquer coisa, presente. Pau para toda obra mesmo. Tem festa boa tá dentro, tem cilada tá dentro, tem comida boa tá dentro, tem fome, sedo e frio está mais dentro ainda. É justamente na hora do “amor, tem bodas de prata da minha tia de segundo grau” é que a gente percebe quem veio para ficar, ou seja, quem se prontifica com o sorriso mais gostoso do mundo, e quem está apenas de passagem, e sai bufando e arrumando justificativas pelo caminho. Relacionamento é via de mão dupla, o “favor” em algum momento será retribuído. Só que isso não deveria ser uma “obrigação”, companheirismo é o mínimo. Companheirismo é o MÍNIMO.
Acho justo manifestar o direito de se esquivar quando a preguiça é muita, mas confesso que não acho o ideal. Liberdade de escolha, livre arbítrio, individualidade, liberdade sim, porém nenhuma destas coisas pode ser desculpa para deixar o outro encarar a vida sozinho. Senão qual o motivo de se relacionar? A gente entra em um relacionamento porque quer dividir a travessia, quer estar junto, quer comer docinho escondido na festa do priminho, quer dançar até o pé pedir para parar no aniversário do amigo, quer dividir a fome depois daquela reunião de família demorada ou apenas mirar o olhar de conforto do parceiro(a) enquanto termina seu trabalho no domingo a noite. Se for para continuar sem companhia quando o buraco é muito fundo, na boa, melhor mesmo é ficar sozinho.
Somos seres humanos, logo, tem dias que a gente não está no clima de um monte de coisas mesmo. Faz parte, faz bem para a alma e para a relação desafogar o estresse antes de dividir uma situação, e o melhor em alguns casos é colocar a cabeça no travesseiro e dormir bem abraçadinho com a nossa própria companhia mesmo. Mas que esses momentos sejam a exceção e não a regra. Que a gente pare de corpo mole e se posicione como o companheiro(a) que deve ser quando a pessoa que se gosta precisa de um pouquinho do nosso apoio. Se o outro convidou é porque certamente encarar o mundo ao seu lado vai ser muito melhor do que ir para o combate assim, despido de abrigo. Beijo na boca, sexo, cineminha, samba com amigos em comum é amor sem esforço. Quero ver é deixar o egoísmo e o comodismo de lado e ser a luz quando já anoiteceu.
Amor é quando a escolhe estar ali, ao lado do outro, independente do universo que se movimenta lá fora. Se a gente não escolhe, alguém decide no nosso lugar. E olha, já vi muito relacionamento de anos perder o posto para uma companhia realmente frequente. O objetivo é esse, estar sempre bem acompanhado. Nem que seja da nossa própria solidão, que adora um bom espumante, uma batida agitada, e não pede satisfação ao chegar em casa no final da noite. Na dúvida não tenha medo de escolher, melhor um amor que borbulha e não te deixa na mão, do que um que só se faz presente quando bem entende. Tim tim.
