• Comer, rezar e errar
  • Comer, rezar e errar


    Errar é humano, mas arcar com as consequências não é opcional. Um movimento oscilante, um passo em falso, uma palavra que ficou solta no meio do caminho, uma oportunidade perdida que pode nunca mais ter volta. Basta um desvio e todo um alicerce pode se romper. Definitivamente, a vida é o que acontece quando a gente sai de cima do muro e tenta a sorte em um dos lados da moeda. Às vezes o universo nos surpreende positivamente e retribui uma decisão acertada com muito amor. Acontece que nem sempre o nosso sexto sentido aponta na direção certa. Aliás, a tendência tem sido não se optar por rumo nenhum por puro medo dos fantasmas que podem estar escondidos nesta escolha. Mas e aí, não se vive?

    Não vou ligar, não vou responder, não vou demonstrar interesse, vou esperar até se completarem 48 horas, dois ciclos lunares, preciosas horas, até que uma convenção social tola me diga que sim, agora é o momento de arriscar. O grande problema do medo é que ele paralisa. Por já ter trilhado histórias semelhantes, por ter caído em um buraco igualmente sem fundo, ou por reconhecer naquele amor a dor de outrora a gente estaciona. Na oportunidade, na vida, nos sonhos, na vontade, no desejo de saber só por um instante o que significa percorrer aquele caminho.

    Quando menos se espera o cara entende o seu sumiço “forçado” como desinteresse, a proposta de trabalho foi passada adiante, a garota do samba de sábado perdeu a empolgação na paquera, e você continua preso a um receio idiota que martela como um mantra: “pode ser que dê errado”. Inclusive pode ser que chova daqui a dois minutos. O tempo, assim como o amor, é muito imprevisível. Se a gente conduzir as nossas escolhas e a nossa rotina com base em uma previsão que, na maioria das vezes, nem condiz com a realidade ninguém mais sai de casa (ou ama). Por mais que se queira antecipar os acontecimentos, o destino, a sorte, e o merecimento, agem da forma como bem entendem. Pode até chover, mas pode ter sol, sorvete, piscina, arco-íris, pessoas bacanas, e mais um milhão de coisas que não estavam no roteiro.

    É mais do que essencial se presentear em momentos sociais como os de hoje, com o benefício da dúvida. Os relacionamentos andam descartáveis, muitos valores estão distorcidos e são tantas incompatibilidades de objetivos que é normal tentar se preservar um pouco. Afinal de contas, a gente sofre muito até superar o fim de um relacionamento não correspondido para jogar todo o discernimento adquirido pelo ralo por uma mera possibilidade. Só que a vida é isso. Uma grande roda gigante de altos e baixos, acertos e erros, que modelam não apenas a nossa bagagem, mas também a nossa capacidade de resiliência. Errar é preciso, para que a gente finalmente compreenda que é sempre possível recomeçar.

    Certeza é um dos sentimentos mais abstratos que existem. Ela não existe, mas todo mundo insiste em se apegar a ela. O enorme contratempo de se buscar constantemente uma ilusão é que nada nunca vai ser suficiente para tirar o nosso medo da zona de conforto em prol de uma provável felicidade. É muito cômodo ficar estagnado nas nossas certezas e consequentemente não precisar lidar com as decorrências. Só que o amor exige amar. Exige acreditar que aquele risco incalculável de cair do barco no fim de tudo vale a pena. Exige acreditar que mesmo que as coisas não saiam conforme o esperado, a gente vai saber nadar contra a correnteza.

    O medo não leva ninguém a nada. É preciso cautela, claro, principalmente quando a travessia é arredia e já é conhecida. Mas que as experiências sirvam de alerta e não de interrupção. Caminhe, ligue, retribua, corresponda, viaje, convide para o próximo passeio, inicie uma conversa mesmo que da última vez também tenha sido você a tomar a iniciativa. Amor não é barganha. Não teria graça, borboletas no estômago ou brilhos nos olhos se a gente soubesse o final do filme. Se a nossa essência for interpretada de maneira errada, literalmente, paciência. Quem perde não é quem oferece o seu melhor afeto e sim quem não sabe receber.

    Coma sempre que der fome, reze todas as vezes que precisar de coragem, e erre para alimentar a fome e a fé. Você quer viver ou corresponder às expectativas dos outros? Então vive e ama como se esta oportunidade que o universo colocou bem na sua frente fosse única. Antes que o amanhã e o arrependimento te provem o contrário, eu te digo: ela é.

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