• Deixa o que passou
  • Deixa o que passou


    Forgiveness. Vou colocar em inglês pra ver se fica mais bonito. Por algum motivo, perdão não soa bem. Claro que poderia ser pior, vide jubileu e regozijo, mas guarda um ar antigo, às vezes pesado demais.

    Mesmo não gostando da palavra, perdão é importante, tanto porque influencia a nossa relação com os outros, mas, principalmente, porque a sua falta pode manchar o que a gente lembra de mais bonito.

    Não tenho nenhuma dúvida: a cabeça é uma armadilha. No critério de seleção da memória as coisas ruins contam mais. Sempre tenho a impressão de que frustrações, decepções e inconvenientes funcionam como aquelas provas injustas em que o erro zera a questão e ainda anula um acerto, não importa quão relevante tenha sido.

    Anos e anos de escola e a gente lembra do dia em que a mãe demorou demais para nos buscar, da amiga que pisou na bola, de qualquer detalhe que nos fez passar vergonha. Anos e anos de amor e a gente lembra da única mensagem que não deveria estar ali, repassa as frases mais cruéis como se tivessem sido ditas hoje, apaga as incontáveis noites no quarto em que os filmes foram solenemente ignorados por motivo de força maior.

    Valorizamos o erro, maximizamos qualquer tipo de ofensa como se tudo fosse pensado e proposital. Estamos cada vez mais reativos, dispostos a tocar o foda-se por motivos microscópicos ou apenas visíveis a olho nu.

    Considerando essas mesquinharias, penso que se fôssemos um pouco mais evoluídos seríamos ainda mais a favor do foda-se, só que de outro jeito. Seríamos a favor do “Foda-se: eu te amo”, do “Foda-se: tem coisa mais importante”, do “Foda-se: nossa amizade não vai acabar por causa disso”.

    Em vez de gastar tanto tempo polindo dramas, diríamos simplesmente “Foda-se: não tem problema” , “Foda-se: já passou”, “Foda-se: deita aqui e me conta: como é que termina a história mesmo?” Claro que tudo tem limite, mas é sempre bom ficar atento ao nosso grau de intolerância. Pode ser perigoso ficar colecionando mágoas. Se não puder desculpar, vá em frente, mas esteja consciente do risco.

    É como jogar uma meia vermelha numa máquina de roupas brancas.

    E as roupas brancas também são suas.

    ass sarah


    " Todos os nossos conteúdos do site Casal Sem Vergonha são protegidos por copyright, o que significa que nenhum texto pode ser usado sem a permissão expressa dos criadores do site, mesmo citando a fonte. "