Sumir é muito fácil. Bloquear o telefone, o whatsapp, o facebook, retirar as fotos do instagram, evitar todos aqueles lugares públicos em que um encontro de olhares desconcertante seria possível. Inventar uma viagem distante, ignorar os avisos de ligações, mensagens, sinais de fumaça, fingir que viu/não viu, atravessar a rua, literalmente evaporar. Sumir é mil vezes mais fácil do que enfrentar o contexto muitas vezes difícil de uma situação real. Quem vira as costas se isenta da parte dolorosa do processo de encarar a verdade. Mas e quem fica, convive com o que?!
A metade que da noite para o dia desaparece não precisa lidar com os olhos chorosos, com a mágoa do que não foi dito, com a dor aguda do silêncio, ou com os milhares de questionamentos que borbulham na cabeça de quem ficou para trás. Não é o outro que inicia um monólogo desesperador com a caixa postal do telefone, com as milhares de desculpas vazias dos amigos, ou com os e-mails que nunca recebem retorno. É a gente que fica e cria os mais absurdos porquês, as justificativas que melhor amenizam o descaso com que o nosso sentimento foi tratado, e se apega às desculpas mais esfarrapadas apenas para diminuir um pouquinho que seja a sensação de “descartabilidade” que toma conta da nossa travessia.
De fato, é bem mais conveniente se esquivar da discussão, das acusações, da troca de sofrimentos, do que ser homem/mulher de verdade e expor que errou sim, que fraquejou sim, que passou dos limites sim, acertar as arestas e seguir em frente. Ninguém gosta de assumir que agiu feito um idiota. Tem o ego, tem o medo, tem a culpa, tem a dor do outro olhando fundo dentro da maturidade da gente, tem o arrependimento. Fugir, sem sombra de dúvidas, é simples e acessível. Difícil mesmo é ser um sobrevivente nesse mundo de relacionamentos fast-food, de portas abertas sem aviso prévio de despedida, de covardia e total indiferença com o carinho de alguém.
Então você aí, você mesmo que se achou muito esperto(a) por ter ido embora sem prestar satisfações, por ter trocado de amor como quem troca de roupa, por ter continuado o caminho com uma alma disfarçada de leveza, saiba que bem, nada do que ficou será igual. Será melhor. Porque quem fica atravessa a tempestade sem guarda-chuva, de sentimento nu mesmo, que é para lavar o lado de dentro de toda esta energia ruim que tomou conta dos amores do mundo. Quem fica sofre até a última gota de agonia deixar lembranças na autoestima da gente e como num suspiro resiliente de liberdade, parte para outra. Quem fica move adiante, quem vai nunca se desata definitivamente do passado.
Porque as pessoas somem? Porque sim. Buscar justificativas além de não modificar em absolutamente nada aquilo que passou, só serve para torturar ainda mais o nosso entendimento. Aconteceu, fim. Não padece, não procura explicações, não tenta entender. Tem coisas na vida que, de verdade, não possuem argumentos plausíveis. Aceita, respira fundo e vive. O universo se encarrega lá na frente de converter em aprendizado todo o respeito que outrora foi negado. Sumir é covarde, voltar como se nada tivesse acontecido é crueldade. Então faz um favor e fica. Fica bem longe que é para não estragar esta pessoa bonita que sobreviveu a você. Para quem ficou atônito na janela de casa buscando respostas para a brisa fria que avisava do inverno: ninguém é insubstituível e nada acontece por acaso. De uma coisa eu sei bem, o amor é o Texas, quem deixa rastros de sumiço por onde passa, quando menos se espera come poeira pelo caminho.
