• Os efeitos colaterais da geração  do “ninguém é de ninguém”
  • Os efeitos colaterais da geração


    do “ninguém é de ninguém”


    Não sou o tipo de pessoa que idolatra o passado. Ao contrário, sou apaixonada por essa modernidade em que as pessoas são cada vez mais livres para serem quem são. Essa modernidade nos permite perceber que as amarras do moralismo não podem nos segurar. Que podemos nos comportar e nos vestir como bem entendermos e ninguém tem o direito de nos rotular por isso – ao menos teoricamente.

    Essa mesma modernidade poderia muito bem – e acredito que isto acontecerá em breve – naturalizar alguns comportamentos ainda considerados absurdos por uma sociedade que, em muitos aspectos, insiste irritantemente em manter-se conservadora.

    Isto é realmente típico da sociedade pseudomoralista na qual estamos inseridas, em que qualquer bizarrice desumana é aceita desde que feita debaixo dos panos, mas os comportamentos humanos mais naturais – como, por exemplo, transar – são demonizados quando em evidência.

    Felizmente, o que se vê é uma tendência cada vez maior em tornar naturais e aceitáveis tais comportamentos, tal qual deve ser; estamos a alguns passos do dia em que cada hipócrita na face da terra será obrigado a deixar sua máscara cair. Caminhamos – sendo otimista como costumo ser – para um futuro em que o corpo deixará de ser cultuado apenas em revistas masculinas e as pessoas compreenderão que exibi-lo como bem entendermos – ou não – é um direito que nos assiste.

    Entretanto, numa visão talvez cafona e até obsoleta, acredito que toda essa facilidade tende a influenciar – e negativamente – nas conquistas. É que, nos relacionamentos modernos, tornou-se prática corriqueira “queimar” algumas fases da conquista que julgo indispensáveis: As pessoas já começam a se conhecer demonstrando escancaradamente suas terceiras intenções; afinal, são livres para isto. Começa-se a conversar e, em alguns minutos, o papo já se converteu em algo absolutamente sexual. Uma espécie de pseudointimidade flui de uma maneira vertiginosa e assustadora.

    Troca-se fotos eróticas ou em poses ginecológicas antes mesmo do primeiro encontro; mostra-se o que deveria estar oculto – não por moralismo ou falta de liberdade sexual – mas para manter aquele mistério que, ao menos para esta alma talvez ultrapassada, é o grande barato de conquistar ou ser conquistado. Não que devamos nos esconder, mas, sem dúvida, certo mistério faria bem – não em nome da moral e dos bons costumes – mas apenas para irmos nos descobrindo gradativamente e nos momentos certos.

    Acredito que a sensualidade de outrora era delirante porque tinha um mistério que já se perdeu, e, lamentavelmente, talvez jamais seja recuperado. O corpo não era visto: era imaginado, com uma intensidade imensurável. Os desejos não eram ditos: supunha-se, e consigo imaginar o quanto isso era infinitamente mais forte do que as toneladas de putaria que se diz nas “paqueras” modernas. Pode parecer papo de avó – e, acredite, eu não tenho medo de que o pareça – mas esconder-se pode ser muito mais afrodisíaco do que exibir-se, talvez mais do que nós – adeptos da conquista moderna e do “ninguém é de ninguém” – ousamos supor.

    ass-nathalie


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