• Eu stalkeio, tu stalkeias, ele stalkeia – por que  temos tanta curiosidade sobre a vida alheia?
  • Eu stalkeio, tu stalkeias, ele stalkeia – por que


    temos tanta curiosidade sobre a vida alheia?


    Stalkear: verbo intransitivo. Originário do substantivo inglês stalker: a person who stealthily hunts or pursues another person. Ir atrás. Pesquisar. Agir como detetive para descobrir detalhes. Praticar a vigilância exacerbada sobre um pessoa, muitas vezes forçando contatos. Ato de perseguir virtualmente alguém, acompanhando e analisando cada aspecto de sua presença nas redes sociais. Palavra nova no nosso vocabulário, esse verbo surgiu e teve seu uso cada vez mais potencializado junto com o crescimento da importâcia das redes sociais e também ao quanto mais permitimos exibir nossas vidas na web.

    Tudo começou no mIRC. Você ficava entrando e saindo do canal só mirando aparecer para determinada pessoa a janelinha “Fulaninha acabou de entrar” e ver se, assim, ela te notava e iniciava uma conversa. Você também observava o nick dela de 10 em 10 minutos só pra ver que música ela estava escutando e então ir atrás da banda e descobrir todas as informações possíveis, virar mais fã que a própria pessoa e ter assunto para conversas futuras que você já imaginava na sua cabeça. A mesma tática seguiu na era do MSN. Dava pra ver que “fulano está ouvindo Panic at the Disco” e ao notar no status da pessoa indiretas como “estou meio mal” iniciar uma conversa instantânea de ~ombro amigo. Aí veio o Orkut pra colocar a primeira barreira real na vida do stalker. SIM, só quem um dia já stalkeou sabe como foi aterrorizante aquele mecanismo da rede social que mostrava quais eram as últimas pessoas que stalkearam visualizaram o seu perfil. Cancelar essa ferramenta, abrir conta fake só pra bisbilhotar ou pedir pro amigo que não tinha esse mecanismo ativado dar uma olhadinha pra você: foram necessários vários malabarismo para continuar a vida de stalker. Até que, para a alegria dos praticantes desse hábito, surgiu o Facebook que não só não atrapalha a arte de stalker como também aumenta o seu potencial com seu feed de notícias tendencioso, empurrando atualizações de status específicas para a sua timeline e manipulando quem aparece no topo da sua lista de bate-papo.

    Aí depois vieram Twitter, Forsquare, Instagram, Vine… dá pra viver um Big Brother Brasil direto do seu smartphone, anunciando em tempo real sua localização, o que está fazendo, pensando e até mandar uma fotinho ou um vídeo pra comprovar que é tudo verdade, afinal: picture or it didn’t happen. Parece que, com o tempo foi surgindo o desejo de ser stalkeado, alimentado pela curiosidade humana que é tipo a zueira: never ends. E aí, é claro, nessa busca desenfreada em vasculhar detalhes da vida alheia o ato de stalkear vira uma arte perigosa, afinal, quem nunca se empolgou na pesquisa e deu, sem querer, um like numa foto do instagram de 2011? Ou ainda favoritou um tweet sem seguir a pessoa ou deu like numa post do ex da pessoa sem ao menos tê-la no Facebook. É por isso que o mandamento mais importante do stalker é: never be caught! Seguido de: não stakeie depois de beber e evite usar o celular por motivos de ~vai que o dedo esbarra sem querer no like.

    Os principais sentimentos que movem um stalker em sua pesquisa minuciosa se dividem em: recalque ou vontade. Ou a) quero pegar. Ou b) quero matar. Mas, em ambas as hipóteses você quer acompanhar (ou quer que os outros acompanhem) a sua vida e vejam o quão feliz você está – mesmo que isso seja mentira. É como se, ao stalkear você fizesse parte, mesmo que de longe, da realidade do outro. O que é mostrado é tão legal que você sente vontade de participar da vida alheia, sem necessariamente ter recebido um convite. É inevitável que a vontade de stalkear surja muitas vezes numa sexta-feira à noite depressiva, mergulhada no tédio, quando você tá sem programa mas acompanhando a vida ~acontecendo lá fora pelas frestas das redes sociais. Geralmente, nesses red rays, o stalker acaba se sentindo mais mal do que bem. E é aí que mora o perigo, porque muitas vezes há mais autopromoção que felicidade em si, e o mundo virtual acaba se tornando uma neblina de sentimentos escondidos por atitudes pré-fabricadas. Ao stalkear viramos intrusos de uma vida da qual não pertencemos, mas adoraríamos fazer parte mesmo sabendo que os 140 caracteres muito bem editados ou os crops estratégicos encobrem uma realidade que nem sempre é a mostrada. Afinal, quando a vida corre, sem filtros, não é tudo o que se consegue editar.

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