Há quem diga que a monogamia está fadada ao fracasso: A humanidade está desaprendendo a amar uma pessoa só.
Não que eu rechace essa história moderna de dividir amor entre uma, duas, três ou quantas pessoas couberem no coração. Não compartilho dessa visão arcaica de que poliamor é coisa de quem não quer compromisso e de quem não sabe amar – ao contrário, acredito que é preciso ter muito amor pra dar a ponto de conseguir dividí-lo sem magoar ninguém.
Se a liberdade de amar é o mais bonito da vida, por que condicionar o amor a padrões e modelos? O amor pode se dar de tantas formas, pode ter tantas cores, tantos jeitos. E – seja como for – é sempre amor. Por isso defendo o direito que todo mundo tem de amar a quem quiser e como quiser – com ou sem monogamia, com ou sem poliamor.
Apesar de todo esse apreço pela liberdade, devo confessar: eu sou cafona. Eu gosto de boleros antigos e queria que ainda existissem radionovelas. Eu aprendi sobre o amor vendo casamentos de longa data. Nunca acreditei nas comédias-românticas hollywoodianas (ainda bem) e aprendi sobre o amor do dia-a-dia, da rotina, do carinho e da calmaria.
Talvez por isso eu acredite que numa relação afetiva só cabem dois – embora numa cama, talvez, caibam alguns. O amor que conheci só comporta a dedicação integral – e isso não tem nada a ver com não dar liberdade ao outro. É que no amor a liberdade toma outro significado: quando se ama, estar com uma pessoa só não é um fardo. É um privilégio.
Isso não tem nada a ver com puritanismo – mesmo porque eu, do alto da minha cafonice, defendo que interações sexuais não precisam, necessariamente, ser a dois. Mas para dividir amor – essa palavra tem tanto peso! – o mundo não está preparado: não há ainda tanta confiança, tanta abertura e tanta sinceridade.
Só acho que – por mais que o poliamor floresça, e que nasçam outras infinitas e belas formas de amar – o amor de dois corações não cairá de moda. O amor da soma, do esforço comum, da liberdade consentida. O amor cafona, que resistirá invicto à turbulenta modernidade – porque ainda há quem se dedique a um só abraço, e, definitivamente, não há nenhum problema nisso.
Seja como for, o amor de verdade só precisa de respeito. Honestidade. Vontade de ver dar certo. Acreditar na liberdade de amar como se queira é também defender o monoamor na era das paixões efervescentes e do amor moderno – porque cada um cria o próprio modo de amar, ou permanece acreditando no modo tradicional. Amor é escolha. E por isso mesmo Lulu Santos tem toda razão: Consideramos justa toda forma de amor.