• Nosso Tubby É Ao Vivo E A Cores – Porque Não  Precisamos De Mais Um App De Objetificação
  • Nosso Tubby É Ao Vivo E A Cores – Porque Não


    Precisamos De Mais Um App De Objetificação


    Depois do furacão Lulu balançar o universo masculino, a revanche contra as mulheres (sim, tô me sentindo num revival dos anos noventa no Domingo Legal fazendo parte da gincana Homens x Mulheres) foi anunciada e tem nome: Tubby, o app que pretende ser tipo um Lulu, só que muito mais pesado e totalmente sexual e que já está sendo desenvolvido – com direito a #EngoleTudo #CurteTapas, bem diferente do Lulu, cuja hashtag mais ~ofensiva~ era #CurteRomeroBritto. Ou seja, o novo app veio pra restaurar a ordem natural das coisas. Só que os seus desenvolvedores não estão fazendo nada de inovador. O Tubby já existe no nosso cotidiano e é tão novo quanto apedrejar mulher adúltera em praça pública. Infelizmente, não há absolutamente nada de transgressor em julgar, invadir ou humilhar mulheres publicamente e sair impune.

    Como quem é subordinado ou submisso não tem o direito de avaliar – somente de ser avaliado – nós, mulheres, somos avaliadas, diariamente, independente da nossa vontade, em todo tipo de ambiente. As cantadas são um ótimo exemplo disso. E é como se o Tubby apenas virtualizasse os rótulos limitantes e invasivos que recebemos (sem pedir) nas ruas. Por exemplo, se você escuta um “ô lá em casa” ou “gostosa”, é o equivalente no Tubby a uma nota 9,0 acompanhada de #ComeriaTodinha #JeitoDeSafada #ChupariaInteira. Agora, se você escuta um “linda” (tipo nota 8,0), mas responde pro cara, manda ele cuidar da vida dele, tomar no cu e etc., aí você perde uns três pontos e ainda ganha #MalAmada #MalComida #DormiuDeCalçaJeans no seu perfil porque o patriarcado não gosta de mulheres respondonas.

    E se você acha que as demonstrações de poder diárias estão restritas às cantadas de pedreiro nas ruas, sinto muito lhe dizer que você está redondamente enganado. Até mesmo uma cientista norte-americana, Emily Graslie, que tem um canal de cunho educativo – vejam bem, de cunho educativo – sobre biologia no YouTube, o The Brain Scoop, não foi poupada de avaliações físicas rasas e desnecessárias nos comentários do canal. Ao ser questionada se já tinha sofrido algum episódio de sexismo em seu trabalho, a cientista respondeu que o que mais a incomoda são os comentários escrotos que recebe, do tipo:

    “Eu totalmente comeria ela”

    “Nossa, finalmente eu vi o corpo dela, como uma mulher pode ser mais gostosa que Emily?”

    “Ela só precisa de um óculos mais sexy”

    “Mesmo que as roupas que você veste meio que disfarcem, dá pra ver que você é bem gostosa por baixo delas”

    Traduzindo os simpáticos comentários para o futuro perfil no Tubby da Emily, acho que ela receberia nota 9,0 com direito a #SantinhasSãoAsMaisSafadas #GataGeek e #ComeriaFácil. É, gente, não tá fácil nem no meio científico. Além de inteligentes e articuladas, nós mulheres também temos que ser atraentes. Agora, se você vasculhar canais de cientistas homens na mesma posição da Emily, duvido que encontre comentários ~construtivos~ com o mesmo teor de sexismo, do tipo: “ele deveria usar um sapatênis mais sensual”, “mesmo com esse jaleco dá pra ver que você é um tesão aí embaixo” ou “eu totalmente daria pra esse cara!”.

    Se sem o Tubby já vivemos nesse mundo machista maravilhoso que sempre vai oprimir e esperar da mulher uma carinha bonita e a bunda no lugar, com o Tubby só prevejo coisas boas – só que não. Avaliar mulheres não é a mesma coisa que avaliar homens. Não vai haver simetria na relação Tubby-Lulu, porque simplesmente não estamos no mesmo patamar de liberdade sexual que os homens. É aquela velha história: homem que transa e assume seu próprio prazer é garanhão, mulher que transa e assume seu próprio prazer é vagabunda. São dois pesos, duas medidas. É tipo o que acontece com os vídeos de revenge porn que vazam no Whatsapp: não importa se quem tá lá aparecendo são DUAS pessoas fazendo sexo, não importa se ambos são os protagonistas – pau e buceta. Sempre quem se fode, quem tem a vida arruinada, é a mulher. E parece que dessa vez não vai ser diferente. O Tubby é a revanche da objetificação masculina (Lulu), é como se os homens quisessem ~revidar~ os rótulos que lhes foram dados. A única diferença é que, com o Lulu, os meninos sentiram na pele pela primeira vez na vida como é serem objetificados e resumidos a um rótulo e, infelizmente, nós não precisamos de um Tubby para sentir isso.

    PS: O Tubby será lançado dia 4, mas dá pra sair do app antes mesmo de os reviews sobre a sua performance sexual começarem a bombar. Basta entrar aqui para ~arregar~, como eles genialmente sugerem. Porque, né, deixar a sua vida sexual ser exposta é sinônimo de coragem. Ficou com ~medinho~ de ter o mesmo destino de uma Fran? Só pode ser arregona.


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