• Manifesto Pela Sinceridade Na Hora Da  Conquista
  • Manifesto Pela Sinceridade Na Hora Da


    Conquista


    Estava eu no bar, lugar mais apropriado do mundo para desenvolver uma teoria como a que vocês lerão nos parágrafos seguintes. Entre goles de cerveja gelada e cubos de mandioca frita, analisei, com atenção, o teor do xaveco que havia acabado de começar na mesa ao lado.

    O Don Juan, com a barba por fazer, jeans surrado e bíceps de Itu, tinha acabado de fazer a aproximação e, após apenas alguns minutos sentado ao lado da garota de belas coxas, começou a desferir mentiras que até o Pinóquio teria vergonha de dizer. Muito provavelmente ele não sabia quase nada dela e, apesar do superficial contato entre os dois, disse que ela, a vítima da noite, sem dúvida, era a mulher interessante que ele estava procurando para estabelecer um laço afetivo, e que seu verdadeiro interesse não era na beleza, mas sim na personalidade da estonteante mulher de vestido curto. Nesta hora, fiquei com certo nojo daquele mar de mentiras e, apesar de já ter feito o mesmo tipo de abordagem em outras eras, pensei: “que tipo de mulher, com mais de quatro anos de idade, seria ingênua ao ponto de acreditar nas mentiras daquele loroteiro?”.

    Antes mesmo de pedir a saideira e depois de ouvir uma longa série de mentiras quase caricatas, rolou o primeiro beijo entre eles. Um pouco depois, enquanto o garçom trazia a nossa conta, pude vê-los deixando o bar juntos e, de longe, ainda o vi abrindo a porta do carro pra ela. Ok, agora é a hora que vocês podem me perguntar: “O que tem de mais a formação de mais um par na infinita noite paulistana?”. Eu respondo com uma nova pergunta: supondo que a real intenção dele fosse levá-la para a cama e que a dela, coincidentemente, fosse exatamente a mesma, a junção daqueles corpos aconteceria se ele simplesmente dissesse a verdade? Algo do tipo: “oi, poderia inventar algumas muitas mentiras para transar com você, mas, hoje, pela primeira vez na vida, serei sincero: quero que saiba o quanto estou louco para tirar sua roupa e descobrir como é o tom do seu gemido.” Bem provável que o approach terminasse em soco na cara. E aí é que eu me pergunto: o que há de errado com a sinceridade?

    Absolutamente nada. Acontece que desde os tempos mais remotos, a mentira foi cultuada. Milhões de lendas foram inventadas para fazer com que a mulher não fosse capaz de enxergar o prazer sexual desvinculado do amor, do casamento, da procriação e de uma porção de burocracias desnecessárias. A sociedade patriarcal agarrou o conceito com unhas e dentes e cuidou para que as mulheres se sentissem mal quando aceitassem a naturalíssima busca pelo prazer advindo do sexo. E mesmo após a evolução da cultura e o enfraquecimento de vários dogmas, ainda vemos o reflexo dessas ideologias ultrapassadas fazendo com que algumas mulheres prefiram ouvir mentiras para justificar a realização dos próprios desejos. Sim, em tempos de Google Glass, muitas mulheres, infelizmente, ainda sofrem com os estilhaços de ideias do passado e, mesmo gostando de transar mais do que de lasanha, não se sentem confortáveis em aceitar a sinceridade e o próprio prazer.

    Pense bem e perceberá que os meios mentirosos não são necessários para a aceitação de fins prazerosos. Muita gente já percebeu isso. Pessoas que provavelmente, neste exato instante, não estão lendo meu texto, porque estão ocupadas demais com os benefícios estremecedores que a sinceridade pode gerar. Sonho com o dia no qual será mais fácil tomar um tapa na cara após uma mentira do que depois da verdade. Até lá, tristemente, muitos homens continuarão falando da combinação de signos, quando poderiam falar de coisas bem mais gostosas, e muitas mulheres continuarão ouvindo esse tipo de ladainha, quando na verdade, pertinho do ouvido, poderiam estar ouvindo um delicioso: “e aí, vamos colar nossos ossos essa noite?”.


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