• Vadias, Cachorras, Vagabundas – Desmerecer  As Mulheres Prova Que Você Tem Medo Delas
  • Vadias, Cachorras, Vagabundas – Desmerecer


    As Mulheres Prova Que Você Tem Medo Delas


    Você pode ter o carro do ano e uma casa nalguma praia paradisíaca das Ilhas Gregas. Prometer-lhe uma vida regada a Moet Chandon e muito caviar. Ter um pau que mais parece uma garrafa de cerveja de 600 ml – tanto na grossura quanto no comprimento –, além de dedos de Beethoven e língua de Gene Simmons. Você pode levar-lhe café da manhã na cama todo santo dia e esboçar aquele cafuné gostoso antes da soneca da tarde. Fazer juras de amor eterno e deixá-la escolher até a cor dos olhos dos filhos que vocês terão. Mas enquanto não entender que o que a mulher moderna quer é liberdade – e não necessariamente sexual – nunca saberá impressionar ou até mesmo respeitar uma.

    A mulher moderna é a desgraça do homem tradicional, que sempre se contentou em prover a fêmea financeiramente e em usá-la sexualmente, e nunca imaginou que um dia os papéis pudessem se inverter. É o desvario da casa das avós que servem o arroz e feijão do avô no prato e acham que lavar a cueca do marido é demonstração de amor. É o terror das sogras de comercial de margarina, que tanto ansiaram pelas reuniões de família perfeitas, com pai, mãe, avô, avó, netinhos, cachorrinho e papagaio comendo torrada com Qualy numa mesa posta com uma toalha xadrez. E o motivo de tanto terror – pasmem – é a liberdade que ela vem alcançando. E isso não há dinheiro ou performance sexual que pague.

    Apesar de ainda sofrer todo o tipo de violências diárias – desde receber salários mais baixos do que os homens até ser apalpada no metrô “porque a saia curta dela dá direitos aos atrevidos” –, a mulher moderna continua forte na luta pela liberdade. Cada tapa que leva é mais um motivo para continuar de cabeça erguida. E é aí que ela coloca em xeque a tão difundida (e fodida) ideia de que o feminino é o sexo frágil. Se você ainda pensa que a força feminina está em suportar sessões tenebrosas de depilação, aguentar a largura de um ombro alargando-lhe a boceta durante o parto e conviver com hemorragias mensais mais conhecidas como menstruação, está na hora de convidar a sua ingenuidade para um chá com bolinhos de chuva. Ou de pedir ao gênio da lâmpada uma troca de sexo súbita por pelo menos uma semana.

    Todos nós, sendo mulheres ou não, exercemos pelo menos uma vez na vida violência contra a mulher moderna. Sabe a Panicat que ganha a vida rebolando na TV? Subestimar a capacidade intelectual dela, o que é quase automático para a maioria das pessoas, é uma violência. Sabe aquela menina que você chama de vadia só porque ela transa com um cara diferente a cada semana? Ela apenas faz uso do corpo dela, algo que lhe pertence – o errado da história é você, que está a violentando. Lembra a vizinha do nono andar, que descia diariamente do elevador com decote e saia curta e você a olhava com ares de repressão? Violência. Sabe aquela sobrinha estudiosa que nunca apareceu com um namorado e sobre a qual você insiste em fazer piadinhas usando o pejorativo termo “desencalhar”? Violência mais uma vez. Lembra aquela menina gordinha que saiu com você e sobre quem, no dia seguinte, você fez chacota, rindo em alto e bom som de todas as gordurinhas e celulites dela? Violência once again. São elas lutando pela liberdade, e você lutando para privá-las disso.

    E por que elas, cada qual com sua particularidade, incomodam tanto? Porque cada passo que elas empreendem a caminho da tal da liberdade – sexual, de escolha, de ir e vir – soa como desacato. Homem sair sem camisa na rua? Normal, mas mulher usar roupa justa é um ultraje à moral e aos bons costumes – afinal, mulher minha tá aí pra ser, antes de uma puta na cama, uma dama na sociedade. Homem decidir adiar a vida pessoal para conquistar sucesso profissional? Normal, mas toda mulher que não quer se casar e ter filhos ou é lésbica ou carece de uma pica. Homem estar irritado e descontar nos outros? Culpa do estresse do dia a dia, mas irritação feminina é ou frescura da TPM ou sinal de que ela é mal-comida. Homem pegar cinco mulheres na balada? Normal, mas mulher que fica com cinco caras em uma noite não se dá ao respeito. Homem portar um verdadeiro matagal por sob as calças? Normal, coisa de macho, mas mulher que atrasa a depilação em uma semana é desleixada. Isso pra dar apenas alguns exemplos corriqueiros.

    E aí, olhou para o próprio rabo? Entendeu a sua violência? Então, antes de sair às ruas pedindo paz e o impeachment da Dilma sem nem saber direito o que nada disso significa, olhe para o seu interior e veja o quanto de guerra você ainda precisa sanar aí dentro. Certa vez disse o sábio e tímido poeta que mora aqui em mim: de nada adianta você querer salvar o mundo enquanto não puder sequer acalentar o seu próprio coração.


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