• A Tendência Feminina à Bi-curiosidade
  • A Tendência Feminina à Bi-curiosidade


    Uns dez anos atrás, quando eu ainda era adolescente, começou um boom de meninas (ditas) bissexuais que tava mais na moda do que dançar Hey Ya com os dedinhos balangando pra frente. Era cool a menina se dizer bissexual. Era daora beijar meninas nas baladinhas. Você era popular, pra frentex, legal e admirada se beijasse meninas. Os gatinhos ficavam doidos por você, as meninas mais lindas beijavam tribufus só pra dizer que tava pegando uma menina. Não sei se foi a causa ou a consequência dessa moda aquela duplinha manufaturada industrialmente na Rússia, de duas meninas adolescentes, lindinhas e lésbicas (cof, cof), que se vestiam de colegiais e se beijavam nos clipes ao som de uma música ruim pra caralho:

    Eu lembro que, no começo dessa moda, eu estava fazendo o segundo grau num colégio interno e cristão no Paraná, cercada de irmãos e irmãs em Jesus, cantando hosanas ao Senhor, dando moshes ao som do Padre Marcelo Rossi e imune às legiões de succubus menores de idade que Satã havia enviado à Terra para seduzir jovenzinhas desavisadas. Quando saí do internato e fui fazer o 3º colegial numa escola regular em SP, as minhas amigas davam selinho uma na outra no meio da sala. Amiga, acertei o problema de matemática, vemk, schlept.  A minha primeira reação foi de choque absoluto, mas sabe como são os adolescentes, influenciáveis criaturas. Antes mesmo de terminar o primeiro bimestre essa história de beijar meninas era a coisa mais normal e batida pra mim. Nem todas aderiram à moda, só ficaram de fora mesmo as carolas, as perdedoras ou as filhinhas de papai, aquele bando de BV cabaça.

    O tempo passou, eu e minhas amigas do segundo grau crescemos, fizemos faculdade, casamos (ou não), e sabe o que essa modinha dos anos ’00 criou? Uma horda de jovens adultas propensas e abertas ao bissexualismo, oriundas da bi-curiosidade. Aqui estou abolindo rótulos ou especificações burocráticas; por “bissexual” me refiro às mulheres que já provaram e fariam de novo, por “bi-curiosa” aquelas que ainda não provaram, mas não têm aversão à ideia de tentar provar um par de peitinhos outro tipo de carne. A tal modinha deixou a porta entreaberta e facilmente acessível a todas aquelas que tinham qualquer tipo de desejo oculto ou reprimido.

    Se você é mulher e tem 20-e-tantos anos, DUVIDO que você nunca tenha sequer dado um selinho em uma mulher. Ou admitido, meio bêbada, que já teve curiosidade. Às vezes até teve vontade diante de uma amiga tontinha e atirada, mas faltou coragem na hora. Tenha você consumado ou não o ato, e deixando de lado toda e qualquer orientação sexual, é incrível a quantidade de mulheres que já experimentaram o outro lado do buffet, por qualquer motivo que seja. Aliás, raro mesmo é você encontrar uma mulher que nunca sequer cogitou a possibilidade de beijar ou transar com outra.

    Creio eu que, hoje em dia, classificar a orientação sexual de uma mulher tornou-se tarefa muito mais sutil. O que um dia foi modinha hoje em dia é praticamente o padrão de comportamento feminino. Beijar outra mulher, por qualquer motivo que seja, é uma experiência normal na vida da mulher normal. Transar “só pra ver como é” é a consequência natural. Claro que as experiências vividas por cada uma diz respeito apenas a elas, não vou dizer que tem mulher extremamente safada por aí mas que nunca se ligou em ficar com outra menina.  Não é mais hetero-bi-homo, eu vejo muita salada mista por aí e, na real? Não tem nada de errado nisso. É confuso e polêmico, as classificações se entrelaçam. A mulher pode dizer abertamente “i kissed a girl and i liked it” sem necessariamente ser bissexual ou lésbica. Muitas vezes são casadas (com homens) e sexualmente felizes, mas gostam de um lanchinho diferenciado uma vez ou outra.

    Na minha opinião, a tal modinha dos anos ’00 acabou mudando muita coisa hoje em dia. Naquela época, muita mulher beijou outra por pressão alheia, hoje em dia faz-se por mera vontade, e não tem mais tabu porque caiu na normalidade. Não é mais errado, não é mais chocante. Quem não tá cansado de ver mulher trocando bitoca no BBB? Não tem mais como tentar popularidade ou ser cool e chocar a sociedade beijando meninas porque é um negócio que quase todo mundo faz. Os homens fazem. As mulheres fazem. Ser bissexual, de fato, vai muito além disso, é claro. É preciso o desejo e tesão genuínos, além de qualquer curiosidade  que, protegida pela permissividade deixa-nos muito mais à vontade pra saciar desejos outrora considerados errados ou polêmicos.

    Lembro uma vez, quando eu tinha 20 e pouquinhos anos, que fui à formatura  de uma amiga, obviamente um pouco mais nova que eu. Lá pro fim da noite as novinhas tudo muy lôca de batida de pêssego e Ice me encurralaram no banheiro. Foi uma situação um tanto peculiar, pois se fosse um homem hetero no meu lugar, teria tido a noite mais inesquecível como Sultão de colegiais. Entretanto, se eu fosse uma mulher hetero e grilada, teria processado todo mundo ali por abuso sexual. Não sendo nem um nem outro, acho que fui a protagonista de um softcore, só que sem as câmeras.  Sendo que batida de pêssego não me dá grau desde que, sei lá, eu tive a chance de observar as garotas de um privilegiado panorama  –ou seja, sóbria. Dei muita risada enquanto aquelas meninas que tinham perdido a virgindade a no máximo 4 anos todas se/me bolinavam e juravam “nossa, eu como eu adooooro ser bissexual” e logo eu, teoricamente a mais bem-resolvida e experiente ali, garantia que minha praia era homem. Foi divertido, mas percebia-se claramente um “fogo de palha” ali.

    … Pro meu azar, obviamente. Acabei ficando mais… erm… amiga de uma loirinha gente boa no meio dessa bagunça, tomamos alguns… er… Toddynhos juntas e passamos algumas noites juntas, obviamente em vigília e rezando na igreja do Nosso Bom Senhor do Vai-Vai. De novo o tempo passou, ela mudou de cidade, eu engatei num namoro sério com um bundão aleatório e nos reencontramos alguns anos atrás, numa cidade mística rodeada por gnomos e fumaças coloridas. Dividindo um cigarrinho, relembramos a adolescência. Ela continuava linda, peituda e extremamente esperta, mas logo me tacou um “Ai, credo. A gente era muito louca, nunca mais fiz aquele tipo de coisa”.

    Fogo de palha, eu entendi. O boom das tão auto-proclamadas bissexuais abriu portas pra se explorar a sexualidade, tanto pra quem curtiu a fruta quanto pra quem não encontrou ali o seu paladar. É ruim isso? Não. Sob minha ótica hedonista, todo mundo pode e deve pegar quem bem entender, desde que seja consentido (e não envolva crianças ou animais). Mas enquanto minhas utopias de amor-livre não se concretizam, fico muito feliz de contribuir com a curiosidade das pessoas, mesmo que seja apenas escrevendo esse texto. Toda manifestação de carinho e tesão é válida e deve ser valorizada, seja por empolgação do momento ou porque descobre-se ali um novo mundo de gostos e texturas que faz mais jus aos desejos de um ou de outro. E assim caminha a humanidade: com passos de formiga, sem vontade, e permeado de mulheres se pegando. Chato, hein?


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