• Transformando o Tédio em Melodia
  • Transformando o Tédio em Melodia


    por Camila Penachioni

    Nada mais perturbador do que constatar que sua relação caiu na rotina. De repente você olha pro seu amor e acha ele um tédio, completamente previsível conhecido e óbvio. Quantas histórias já não terminaram a partir desta constatação? O problema não é o ciúme, não são as brigas e nem os joguinhos, mas se enxergar dentro de uma relação que se tornou enfadonha, costumeira e morna.

    O nascimento de um amor

    A história que une um casal é sempre interessante de ouvir. A gente gosta de saber como aquele casal fofo se conheceu e como acabaram juntos.  Isso porque é encantador ouvir exemplos de como que no meio de bilhões de pessoas que habitam o planeta, duas pessoas se encontram e resolvem ser felizes juntas. Pode durar apenas uma noite ou muito mais, se com o passar do tempo e dos encontros começar a rolar um desejo mútuo de mergulhar mais fundo na vida do outro, de viver mais experiências juntos. Eis que se anuncia um amor e, nos casos de sucesso, os namoros acontecem.  O problema é que nem sempre essa história que fez o amor nascer sustenta uma relação. Um encontro oportuno em que o cosmos parecia estar em sintonia para fazer explodir uma paixão é algo frágil se comparado com o peso dos anos a dois.

    A rotina do amor

    No começo era uma delícia.” Quem nunca ouviu essa frase? E por que o que era tão bom e cheio de vida perde o brilho e a cor com o passar do tempo? Já fiz essa pergunta pra mim mesma várias vezes e sempre caia no mesmo padrão de resposta: stress, libido, e, sobretudo, culpa do outro: “Ele já não me faz surpresas. Ele já não tem novas histórias para contar. Ele já não propõe nada inusitado”. Cheguei até a desconfiar que eu fosse uma insatisfeita crônica e que todas as relações iam dar nisso mesmo. Angustiada por ver o modelo se repetir fui acumulando experiências e conversas, o que deu na escolha de um novo caminho: reescrever meu amor dia a dia. Dá um trabalhão, mas é um exercício diário mesmo.

    Desconfio que um dos motivos para que as relações caiam nesse mar de tédio é a falta de repertório. É necessário viver as tais novas experiências para que a narrativa de um amor se mantenha atraente, para que ela cresça na complexidade de seu enredo sem perder o frescor da novidade. Para mim, essa é a rotina do amor, quando Cazuza e Frejat dizem “transformar o tédio em melodia”, trata-se disso, pegar o óbvio e todo esse capital acumulado das experiências vividas e querer encontrar ali a oportunidade para novos capítulos. O sexo é um dos campos mais férteis para compor essas novas narrativas, pois ele é, na sua essência, uma experiência intensa de fantasias e sentimentos que tem começo, meio e fim num espaço curto de tempo. Você pratica e volta pros outros contextos da sua vida, carregando aquele monte de sensações novas para o seu repertório.

    Escolhendo o novo 

    Antes de dizer que se recusa a viver coisas novas com seu par, veja o exemplo de um bom livro. É possível que a história fique interessante e que você continue lendo algo sem um novo acontecimento ou uma nova ideia? Sem novos personagens? O ponto é que no modelo conhecido de relacionamentos só consigo me lembrar de poucos “novos” acontecimentos que são bem vistos pela sociedade: viagens, construir um lar, casar e ter filhos. Nada contra, pelo contrário, muito a favor dessas coisas. Mas jura que seria só isso a se esperar do futuro do meu amor? Não dá pra deixar umas páginas em branco e escrever umas passagens inesperadas e ver no que vai dar? Vejo alguns casais sustentando a vida nesses acontecimentos por não conhecer ou permitir outras opções. Resultado: frustrações com as tais promessas de felicidade.

    Você não precisa mudar os seus valores, mantenha os contornos daquilo que é importante para você numa relação, mas entenda que é perfeitamente possível escolher por mudar a forma como você expressa e pratica esses valores e fazer da sua vida real uma analogia com aquele livro delicioso que dá gosto de se ler. Se a sua relação é apenas um porto seguro para ancorar sua carência afetiva, nada disso fará sentido. Mas se nela também couber essa aventura corajosa de bancar o novo em busca dos diferentes amores que um mesmo casal pode viver, dê as mãos ao seu par, combinem as medidas, as regras do jogo e vão escrever a vida juntos. O amor é a tinta, a felicidade é a inspiração.

     

    “E ser artista no nosso convívio
    Pelo inferno e céu de todo dia
    Pra poesia que a gente nem vive
    Transformar o tédio em melodia”

    (Cazuza e Frejat)


     

     

     

    Para fins de direitos autorais de imagem declaro que as fotos usadas acima não são de minha autoria e que o autor não foi identificado.


    " Todos os nossos conteúdos do site Casal Sem Vergonha são protegidos por copyright, o que significa que nenhum texto pode ser usado sem a permissão expressa dos criadores do site, mesmo citando a fonte. "