Certamente seu coração acha que vale. Seus olhos, suas certezas, suas carências também. As mensagens antigas esperançosamente armazenadas, o “linda” despretensioso num domingo à tarde seguido de um emoji apaixonado e os momentos bons, mesmo que escassos, sustentam a verdade que você tomou para si. Como num passe de mágica, toda a angústia que era estar ao lado de uma pessoa indiferente e que nunca estava ali por completo desapareceu. A paixão cega, emudece, apaga o nosso discernimento. Mas, vai por mim menina, ele não vale toda essa saudade.
Nem as inúmeras lágrimas que rolaram, os muitos sábados ansiosos com o celular na mão sem saber, tampouco o tempo desperdiçado tentando conquistar um afeto que provavelmente nunca vai ser seu. Muito natural o nosso corpo reagir bloqueando as lembranças que podem nos ferir de alguma maneira. Dependendo do grau de estrago o sentimento dói fisicamente os buracos da alma. É instinto de sobrevivência, a lei do mais forte. Se não recordamos, não nos tornamos fracos. Isso não quer dizer que o sentimento foi vivido da maneira certa, só significa que encontramos uma forma de continuar.
Acontece que apesar de todos os artifícios que a nossa mente utiliza para minimizar o sofrimento o amor próprio da gente não esquece não. Teve telefone na caixa postal, mensagem sem resposta, bolo na sexta-feira e desculpa esfarrapada a perder de vista. Pensado bem de cabeça fria, teve mais raiva que cuidado, mais desgaste do que crescimento e muito mais dor de que cabeça do que diversão. Se apegar à isso é lembrar que não vale a pena nem um teco de vontade de passado. E ter a certeza de que existe um caminho melhor implica em pular do barco e tentar de novo em outros rumos. Mas, anda tão difícil não é mesmo?!
O fato é que a gente é digno de muito além do que uma mera história inconstante pode oferecer. É preciso refletir com cautela sobre o desenrolar da relação para não subestimar os desacertos e compreender com lucidez o que temos e o que buscamos. Se acabou não foi do nada, alguma razão (ou várias) motivaram o afastamento. Possivelmente você não estava feliz, não se sentia valorizada, passava mais tempo sofrendo do que curtindo a dois, ficava frustrada com frequência com determinadas atitudes. Então, por que se agarrar apenas aos raros segundos de satisfação?
Por mais complicado que esteja o mundo lá fora, não se engane achando que mendigar uma saudade vai diminuir a sua solidão. No máximo vai te tirar um pouco mais de energia e te alimentar com a falsa sensação de que existe alguém presente na sua vida naquele momento. Antes só do que disfarçadamente só, já dizem por aí. Melhor do que alguém que vai embora e volta é aquele que fica sem restrições. A nossa fome de amor é sincera demais para ficar só no couvert. Saudade é para despertar um sorriso inocente e pronto, não para ficar remoendo. Não valia antes, não vale agora. Ele até podia não ser essa Coca-Cola toda menina, mas você é. Nunca se esqueça de que você é e merece absurdamente mais.
