Você precisa saber o que é chegar em casa, tirar os calçados num canto e ver seu sofá te esperando. Com seus livros nas estantes, as fotos da turma nos porta retratos e o tapete comprado, na feira do bairro, fazendo par com o abajur de brechó. Cozinhar sua própria comida, pegar sua própria bebida e escolher sozinho o que ver na TV. Não é fácil, custa caro, mas sair da casa dos pais é um grande passo e um desses que te fazem, finalmente, sentir adulto de fato.
Você pode tomar banho de porta aberta, deixar a louça na pia, manter a organização do jeito que gosta, comprarr aquele quadro novo para a sala, adotar quantos animais de estimação você quiser, receber visitas a hora que quiser e quem quiser. Tudo do seu jeito, é você quem manda.
Por outro lado, você vai aprender também que a louça não lava por conta própria, que estômagos precisam ser alimentados (e que não dá pra viver de miojo), que supermercado pode ser uma coisa muito cara, que passear com o cachorro nas manhãs frias existe muito altruísmo, e que lâmpadas queimadas não se trocam sozinhas.
Além de aprender a fazer seu salário durar 30 dias, morar sozinho te ensina uma coisa que teremos que aprender de alguma forma em algum momento da vida – por mais que essa verdade doa: nascemos sós, e morreremos sós. Isso não quer dizer que não iremos ter grandes companhias e amigos maravilhosos durante a vida. Teremos sim. Mas crescer é aprender como lidar com os seus fantasmas interiores. E quando ficamos sozinhos, eles surgem com mais força. No começo, podem ser assustadores. Vai dar vontade de sair de casa. De ter sempre visita para não ficar sozinho com seus pensamentos. Mas, o quanto antes você aprender a fazer amizade com eles, melhor.
Morar sozinho é um curso avançado sobre como transformar solidão em solitude. A solidão é um estado de espírito negativo. É sentir um vazio enorme no peito. É ter sensação que tudo seria melhor se o outro estivesse ali. Já a solitude é a presença de si mesmo. É algo muito positivo. É se sentir pleno com você. É adorar a sua própria companhia. É se sentir tão completo, que o único caminho é transbordar isso para os outros. E é aí que a gente vira adulto: quando estamos com outras pessoas porque queremos, e não porque precisamos delas para nos sentirmos bem. E morar sozinho te ajuda muito nessa transformação.
O processo de morar sozinho nem sempre vai ser fácil. Vão ter dias chuvosos que vão doer mais. Você vai sentir saudade do arroz e feijão da sua mãe. Do colo do seu pai. Até das brigas com seu irmão. Mas quando o dia raiar de novo, e você notar que sobreviveu a mais uma noite com a sua própria companhia, você vai se sentir forte. E vai começar a perceber que o amor da sua vida que você tanto buscou, sempre morou dentro de você mesmo.
