• Por que querer o mal de quem  a gente um dia amou
  • Por que querer o mal de quem


    a gente um dia amou


    Dia desses, durante um trabalho oferecido pra uma agência de publicidade, acabei caindo na equipe de um ex-rolo. Não era um ex-rolo qualquer: eu tinha sido loucamente apaixonado por ele até ele resolver desaparecer e retornar namorando o ex. Papo vai, papo vem, acabamos saindo para almoçar mais de uma vez. Astrologia, cinema, saudades de casa, viagens, música, relacionamentos e até o novo namorado dele foram pauta das conversas. No fim de algumas horas de papo, me lembrei por que tinha me apaixonado por aquele ser humano.

    Contei pra alguns amigos sobre a retomada da relação e sobre como tinha ficado feliz em saber que ele estava bem. Olhares me reprovavam de todos os lados. Ao que tudo indica, não é possível que haja alguma relação entre duas pessoas depois do pé na bunda. O pé na bunda é a estaca no peito do vampiro para qualquer tipo de laço que se queira manter com alguém.

    Acho isso um absurdo, sabia? Não parece óbvio? O guri nunca me fez mal, era boa companhia, as ideias batiam e tudo mais. Foi uma pena ele não ter se apaixonado por mim como eu me apaixonei por ele, mas isso é um mero detalhe. Sempre fiquei confuso poro entender por que nós não agregamos pessoas com que nos relacionamos à vida comum pós-relacionamento. Digo, sabe aquele rolo que você teve e que era uma companhia incrível para exposições e jantares arriscados? Onde ele tá agora? Esquecido num canto da tua memória, perdido nas mensagens do whatsapp ou num poço de amargura que bloqueou todas as boas lembranças por causa do pé na bunda?

    Uma coisa que eu aprendi nos últimos anos é que toda pessoa com quem me relacionei, começava com um de atração e amizade para só depois desenvolver um interesse afetivo mais forte. Por conta disso, sempre me interessei por pessoas com ideias apaixonantes, histórias bacanas e visões de mundo enriquecedoras. Ter essas pessoas na minha vida era algo que adicionava à minha experiência como ser humano. Se porventura do destino o relacionamento miou, o que me impede de continuar mantendo essa gente boa por aqui? Nada, minha gente. Pelo contrário: faz mais sentido a gente preservar pessoas boas queo deram certo do que pessoas tóxicas que parecem funcionar de alguma maneira no nosso dia a dia.

    E a parte de me sentir feliz pelo namoro dele? Ora bolas, o recalque já passou. Uma hora a gente também segue em frente e percebe quãmesquinho é esse sentimento de querer atravancar a vida do outro quando, na verdade, nós deveríamos torcer pelo bem de quem já nos fez um bem enorme. O rapaz é um querido e merece toda a felicidade do mundo. Não foi comigo, mas parece estar sendo com o atual. Isso não me proíbe de tê-lo como amigo, de continuar os papos cabeça que a gente tinha e de nutrir um sentimento de carinho por alguém que já amei. Como diria a música do Projota: “Não deve haver rancor onde já se teve amor”. Afinal de contas, substituir sentimentos tão bonitos como a paixão, a admiração e a alegria de se estar com alguém por mero capricho de não aceitar o pé na bunda é bobagem. Nós ganhamos muito mais aprendendo a ter boas pessoas ao nosso lado.

    Mas, se o dito cujo em questão tiver sido um enorme babaca, esqueça tudo o que leu no texto acima. Você tem todo o direito do mundo em torcer pra que ele morra sozinho numa ilha deserta a quilômetros de distância daqui.

     daniel


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