• A dor e a delícia de ser sensível
  • A dor e a delícia de ser sensível


    Sentir é cansativo.
    E eu sou uma daquelas tantas pessoas que vivem exaustas psicologicamente porque tudo a sua volta lhes afeta. Daquelas que vêem um morador de rua e passam o dia inteiro pensando nisso. Que se sentem frequentemente culpadas pelo que fizeram, pelo que deixaram de fazer, pelo que deveriam ter feito. Daquelas pessoas que entram numa mini-crise existencial porque o motorista do ônibus foi grosseiro quando pediram informação:  “Também, você nunca sabe onde está. Você sempre precisa de ajuda. As pessoas não gostam de ajudar outras pessoas, ok? Não gostam!” (digo isso pra mim mesma, quase chorando, quase sempre).
    Um dia me contaram que uma conhecida – daquelas que não são nem amigas nem inimigas (pelo menos até onde eu sabia) me detestava com todas as suas forças. Me senti uma idiota com os olhos marejados e acho que fui chorar no banheiro.
    Ser sensível demais é patético. Você chora no banheiro com alguma frequência. Às vezes, nem consegue chegar no banheiro: chora no transporte público, na estação de metrô, na saída da Universidade, nas festinhas, no restaurante, na casa de conhecidos, na casa de desconhecidos.
    Chantagem emocional sempre funciona com você. Você está sempre a mercê da crueldade dos outros e se sente uma coisinha molenga, sentimental e vulnerável. Ser forte é um exercício para o qual você sente que não tem nenhum vigor.
    Não sendo a vida tão injusta assim, existe a recompensa: gente que chora por tudo se deixa afetar por tudo.  Se não existe beleza nisso, não existe em mais nada. Gente sensível não deixa- nunca! – a vida passar despercebida.
    Lembro que quando assisti ao documentário sobre a vida (e morte) de Amy Winehouse, não parei de pensar nele por um mês. Aquilo, de verdade, mudou a minha própria vida. Eu pude usufruir de todos as sensações, boas e ruins, que aquele filme propunha.
    Aliás, idem para tudo na vida: Gente sensível nasce para usufruir. Capta a poesia dos filmes, das peças de teatro, dos números de circo, dos diálogos, dos olhares das pessoas, de todas as cenas da vida, mesmo daquelas que não têm pretensão nenhuma, como um velhinho vendendo mingau na rodoviária às 6 a.m.
    Para as pessoas sensíveis, a vida passa em full HD blue ray 4d. Como não sabem ignorar nada, elas não ignoram a música que toca longe, nem o desconhecido que só quer algum contato,  nem a paisagem cinza que passa na janela, nem o céu quando amanhece azul e sem nuvens, nem as nuvens quando fazem desenhos engraçados no céu, nem os atendentes de supermercado quando sorriem complacentes.
    As pessoas sensíveis sempre vão aos melhores shows porque seus olhos tornam qualquer show o melhor de todos os shows. Conhecem as melhores pessoas porque seus olhos captam o melhor das pessoas. Vêem os melhores filmes porque buscam a poesia no fundo de cada cena de cada filme – mesmo os meia-boca. Para pessoas intensas, nada nunca é meia-boca.
    Frequentemente, as pessoas sensíveis sentem como se fossem explodir – de alegria, de ódio, de tristeza, de revolta, de amor, mas ganham de presente alguma habilidade de contato com a vida.
    Choram por pouco, mas riem por nada.
    Vale a pena chorar no banheiro pra sorrir pelo mundo.

    ass_nathmacedo


    " Todos os nossos conteúdos do site Casal Sem Vergonha são protegidos por copyright, o que significa que nenhum texto pode ser usado sem a permissão expressa dos criadores do site, mesmo citando a fonte. "