• Paz é quando você se perdoa
  • Paz é quando você se perdoa


    A distância entre o que eu sou e o que querem que eu seja é imensa. Tão imensa que nela caberia muita angústia, se eu ainda fosse dada às projeções alheias, mas só o que sinto é uma alegria profunda ter me livrado do peso de precisar corresponder a expectativas que não são minhas.

    Querem que eu use um terno risco de giz, um sapato de verniz e uma maquiagem discreta, e saia às sete da manhã, sorrindo para o vizinho no elevador. Querem que eu seja magra e vá à manicure uma vez por semana. Que eu ria baixo e discretamente, não fume, não beba, frequente a academia e tome suco detox no fim do dia.

    Que eu tenha um marido, um filho e depois uma filha (terão de se contentar com um gato.) Que eu seja comedida e centrada e sente como uma mocinha.

    Em vez disso, eu vou à praia às quartas, roo as unhas, brinco com a minha pança como se ela fosse um monstrinho e rio tão alto que se pode ouvir no último apartamento do prédio da esquina.

    É  só você deixar e as cobranças do mundo te transformam em uma panela de pressão – e é isso, no fim das contas, que, pelo meu próprio bem, eu não admito.

    Porque o pior dessas cobranças é que elas te adestram a fazer o trabalho sujo: Você nem percebe e já está, vocêmesma, se cobrando e se condenando três vezes ao dia.

    A exigência alheia de perfeição é tão devastadora que de repente você se pega pedindo desculpas por ser quem é, como se pudesse mesmo ser outra coisa. Às vezes parece que as pessoas estão tão insatisfeitas consigo mesmas que querem que todos os outros estejam insatisfeitos também.

    Comigo não.

    Se não deu pra terminar o trabalho hoje, eu termino amanhã. Se eu fui mal na matéria, tento numa próxima vez. Se o show de sábado foi uma merda, penso que há muitos sábados e muitos shows pela frente. Se acordo me sentindo feia – com o cabelo oleoso e a acne gritando – eu só respiro a certeza de que eu sou mais que um dia ruim. Eu sou mais do que os meus defeitos – mas eu sou eles, também. E tudo bem. Todo mundo é.

    Se um amigo se decepciona comigo, faço o melhor que posso, porque amor e diálogo não são coisas que se economize. Se eu me decepciono comigo, anoto minha lição e depois… Bem, eu me perdoo. Perdoar a si mesma é a coisa mais salutar do universo.

    “Me aceito impura, me gosto com pecados e há muito me perdoei.” É isso, Martha Medeiros.

     ass_nathmacedo

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