• Um amor bom não precisa fazer estrondo
  • Um amor bom não precisa fazer estrondo


    Ele não chegou num cavalo branco nem apareceu na porta do meu prédio por engano. Também não teve aquele glamour das apresentações regadas a vinho na casa de amigos ou coisa do tipo. Nada disso. A gente se conheceu num aplicativo de paquera e marcou de comer uma pizza. Metade catupiry, metade pepperone. Depois eu senti vontade de vê-lo mais uma vez porque ele era engraçado, ele me convidou para uma peça que eu achei chata – e dormi. Rimos muito quando os atores perceberam que eu roncava. 

    Foi no meio da praça de alimentação num shopping aqui em São Paulo. Eu olhei pra ele e ele não tinha nada de especial. Tava com uma camiseta cinza, um jeans surrado, mochila nas costas e um sorvete escorrendo pelas mãos. A gente tava fazendo hora para ir ao cinema ver um filme só porque na quarta-feira tinha promoção. Daí que eu olhei e pensei comigo: te acho bonito pra caramba, sabia? 

    E achava mesmo.

    Achava terno, abraço macio, bom humor pra compartilhar gifs da Gretchen e de gatinhos saltitantes, paciente para entender os meus atrasos. E me dava espaço, sabia que eu precisava ficar sozinho no meu escritório olhando pras paredes se não quisesse parar. Achava engraçado até o fato de ter que ficar na ponta dos pés pra alcançá-lo.

    Mas cadê, gente? Não teve sirene, não deu azia, eu não pirei loucamente ligando pros meus cinco melhores amigos para contar de tudo. Não teve terremoto nem montanha russa – ainda bem, porque da última vez eu só faltei vomitar o meu fígado de tanta volta que aquele treco deu. 

    Foi assim, devagarinho, parecia paz, sabe? Até cheguei a duvidar que fosse, mas no fim das contas era mesmo. Era amor. Um amor bom feito filme de panda bebê. Um amor desses que os velhinhos compartilham com serenidade enquanto andam de mãos dadas sem pressa nas praças. Coisa gostosa de desfrutar sem todos aqueles medos e sentimentos à flor da pele.

    E eu, que sempre fui um voraz defensor da paixão a todo custo, do gosto extremamente doce ou amargo na boca, aprendi a gostar de molhos agridoces. Do meio termo. Nada daquelas coisas de telona, cheia de créditos sobrepostos identificando os responsáveis por toda aquela bagunça explosiva e amorosa. Nada. Era um amor bom que fazia cócegas em vez de dar dor no peito. Um desses amores que provam pra gente que tem muito filme que a gente ainda não viu nessa vida.

    daniel


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