Me incomoda a ideia de encontrar o homem/mulher da minha vida, como se a minha vida precisasse tão substancialmente de mais alguém além de mim mesma.
A força dessa expressão, embora meio fora de moda, certamente não é o pior: perdoa-se algum exagero em nome do amor. E se há amores tão expansivos que mudam o tom das nossas vidas, então que assim sejam chamados.
O pior é a ideia de coisa definitiva. Porque se é “o homem/mulher da sua vida”, no singular e terminantemente, é sinal de que só pode haver um/uma. E ainda que haja outros homens, não serão ele, o homem da sua vida.
A essa altura, quando já inventaram e-mail, skype e máquina de café expresso, é triste que ainda não se tenha entendido que o amor, assim como a vida, está no plural.
Que não cabe um só par de olhos no nosso mosaico de experiências. Que as coisas – inclusive os amores – que viram memórias não deixam de existir, mas precisam desocupar espaços, precisam de movimento para que a vida siga o seu fluxo.
É triste o apego, mas é ainda mais triste a apatia. É que o homem da sua vida vai te privar dos outros homens da sua vida. A ideia de que pode existir uma experiência única e transcendental que invalide todas as outras é triste, para não dizer uma estupidez: ninguém consegue se manter intacto.
Mudam as pessoas, mudam as prioridades e mudam os amores, naturalmente. No fim das contas, só o que fica é o mais Ãntimo do que a gente é, aquilo que, de tão profundo, não se modifica porque não pode ser alcançado.
Todo o resto vira lembrança, inclusive os homens de nossas vidas, que, depois de algum tempo, são, na verdade, apenas homens.
Não por vaidade, particularmente, mas apenas para tentar manter alguma franqueza: A pessoa da minha vida sou eu.