Pronto. Me sinto pronto para um relacionamento. Depois de tanto tempo preso num limbo emocional difícil, lidando com fins e com recomeços, finalmente me sinto pronto para receber alguém em casa. Vem. Basta vir. Ò, já tô esperando na porta. Tá aberta, viu? Só entrar. Nem precisa bater, imagina, do jeito que eu sou esperto vou perceber assim que você colocar o pé na porta. Cadê?
Calma, cara. Não é bem assim que a banda toca, viu? Você tem certeza de que tá pronto?
Er, não sei. Quer dizer, eu sinto que estou. Mas não faço ideia do tipo de relacionamento que eu quero ter. E aqui mora um baita perigo dessa nossa mania de querer alguém: como nós queremos que seja o relacionamento. Queremos alguém que nos deixei loucos e insaciáveis numa volúpia digna de Machado de Assis? Queremos alguém que esteja na mesma página que a gente e caminhe lentamente, lado a lado, como se fosse uma corridinha na praia do Leblon escrita por Manoel Carlos? Já dissemos “não” para relacionamentos abusivos que machucam, ou ainda não aprendemos que eles são extremamente nocivos e se disfarçam de amor?
Para quem não sabe o que quer, qualquer coisa serve. Minha mãe dizia isso por conta de algumas situações, mas ela não poderia ser melhor do que nesse caso. Acontece de nós nos declararmos prontos para receber um novo amor na vida, mas não fazemos ideia do que queremos dele. E não falo de características fisícas, de faixa salarial, dos esportes que ele pratica, das viagens que ele já fez. Não falo de currículo, mas do tipo de amor que estamos dispostos a receber. Estamos dispostos a nos doar e trocar algumas horas do dia para dar atenção para alguém novo? Estamos dispostos a conhecer verdadeiramente alguém e fechar as pontas soltas de outros casinhos à toa? Estamos dispostos a lidar com alguém que ainda está preso a outro alguém?
Essas e outras perguntas ajudam a definir com quem você quer ter um relacionamento. Norteiam a gente e as possíveis furadas, nos guiam na hora de visualizar o que pode ser benéfico ou não para gente. É claro que podemos tomar uma baita porrada de amor e encontrar alguém que vá contra tudo o que nós pregamos, mas relacionamento não se baseia apenas em amor. Tem uma cacetada de coisas que também importam: afeto, esforço, companheirismo, tempo, dedicação, timing, planos e afins.
Então, quando nos dizemos prontos para alguém, talvez não estejamos realmente prontos. Ou talvez precisemos delinear alguns contornos do tipo de relacionamento que estamos dispostos a ter, tanto para não nos machucar quanto para não ferir outras pessoas. Às vezes o amor é mesmo simples, só que ele pode se perder por um caminho cheio de labirintos quando nós não abrimos espaço, podamos possibilidades e deixamos as coisas mais fáceis.