Na semana passada, depois que lhe contei novidades relacionadas ao Clube da Carta, você me presenteou com um sorriso cheio de orgulho e disse: “Da hora”. Hoje de manhã, comportou-se de maneira muito parecida: mandou um sonoro “da hora” enquanto eu lhe falava dos meus planos para o terceiro livro. Sabe o que isso significa, cabeça de Oreo? Significa que estou contaminando você com meu jeito, que estamos nos embolando. Ou você, antes de mim, tinha o costume de falar “da hora”? Não, não tinha.
Se prestar atenção, notará que nos misturamos mais a cada dia, em diversos aspectos. E não digo isso apenas por causa das expressões e gírias semelhantes que usamos, não. Digo porque nossa constante e intensa convivência, além de alegria e sonhos compartilhados, já gerou mudanças de hábitos e transformações que, muito provavelmente, não teriam rolado se não tivéssemos nos esbarrado neste imenso mundão.
Hoje eu sinto vontade de comer pipoca enquanto assisto a séries na TV, coisa que, antes de você, não acontecia. Nunca. Eu não dava a mínima para pipoca, achava um troço sem graça da porra. Porém, depois dos muitos baldes transbordantes que você trouxe à minha cama (falando nisso, outro dia achei um milho sob meu edredom), sinto que estou aprendendo a curtir pipoca. Não como você – que é capaz de comer umas doze pipocas por segundo e que não recusa pipoca nem depois do jantar -, óbvio, mas estou. O que mais? Graças a você, eu desisti de cancelar a TV a cabo. Eu, que já passei meses sem ligar a televisão, agora ligo, e sempre acabo em seu canal preferido, o GNT.
Você agora toma água com gás, curte ir à temakeria, gosta de natureza (desde que não veja insetos voadores) e é apaixonada por filmes argentinos; coisas que, antes da minha participação especial (quanta modéstia) em sua existência, não aconteciam. Certo? Além disso, agora você também é viciada em doces. Mal aí. Mas quem mandou colar nos rolês dominicais de bolo e cappuccino comigo, né?
E sabe o mais legal? Nossa relação tem ampliado, consideravelmente, os nossos horizontes; diferente de algumas relações limitantes que conheço, nas quais há uma nítida tentativa de amputar essências, uma vontade de transformar o outro em uma cópia de nós.
Eu não quero que deixe de ser a pessoa pela qual me apaixonei – nunca pedirei isso! -, mas amo quando percebo meus reflexos em você, amo enxergar as manchas da minha tinta na sua. E amo, também, quando percebo você em mim, em meu jeito de falar, nos emoticons que aprendi a usar em diálogos virtuais, nas tranqueiras que coloco no carrinho de supermercado, nos programas que planejo fazer, no chocolate amargo que passei a desejar de madrugada…
Quando me vejo em você (e vice-versa), mesmo que apenas em detalhes – que ao resto do mundo são imperceptíveis -, sinto que estamos fazendo a coisa certa, que estamos nos trançando de verdade, de um jeito bonitão. Depois do tempão que já passamos juntos, roçando nossas palavras, peles e almas, estranho mesmo seria não enxergar nada de você em mim (e vice-versa). Mas eu enxergo, sempre. E isso é tão “da hora”! Não acha?