• O seu silêncio me dói
  • O seu silêncio me dói


    Ontem, por sua causa, eu fui dormir triste.

    Se outra tivesse me tratado da maneira que você me tratou – ou muito pior! -, não teria feito a menor diferença. Juro! Nem cócegas. Nada mesmo. Mas você, amor? Você?

    De você eu espero muito mais do que espero do resto da população mundial. Mais, até, do que espero do Obama, do próximo álbum dos Rolling Stones e da terceira temporada de Demolidor. De você, amor, eu espero exageradamente, eu sei.

    Mas sabe o que é, amor? É que eu vivo a nos imaginar bem velhinhos, tatuados até a tampa, reclamando dos pais ausentes que se entopem de linguiça enquanto os filhos correm desenfreados em restaurantes lotados. E do preço absurdo de um chope naqueles bares em que o garçom é instruído a recolher o copo ainda com conteúdo. E de ter que pagar para estacionar em shopping. E…

    Sabe o que é, amor? É que eu tô realmente disposto a disputar com você, toda noite, por centímetros de edredom e um pouquinho de colchão. Sabe o que é, amor? É que eu tô a fim de zerar a Netflix com você, filme a filme, série a série, documentário a documentário… Sabe o que é, amor? Há algum tempo eu decidi: é você que desejo sobre meu banco de passageiros e reclamando do Pink Floyd do meu pen drive, rendada ou bege – por que não? – pendurada em meu varal, fuçando em minha geladeira em busca de um pedaço de torta sobrevivente da última larica etílica, afirmando que minha bunda está murchando e perdendo a gostosura, obrigando-me a aumentar o volume da TV por causa das dentadas frenéticas que dá na pipoca, garantindo que tudo vai ficar bem quando meu coração faz mais tum-tum do que o normal, disparando um “own” para cada foto de filhote fofo que postada na galáxia…

    Sabe o que é, amor? Em você eu apostei todas as minhas fichas. De verdade. Fichas que um dia eu jurei, num brinde que ecoou por toda São Paulo, nunca mais investir no amor e em coisa invisível do tipo. Sabe o que é, amor? Por você eu tirei a poeira do coração que estava esquecido em algum canto do meu corpo, com medo de se expor e, mais uma vez, quebrar a cara. Sabe o que é, amor? Com você eu resolvi fazer a coisa do jeito bonito, adulto e honesto; com você eu decidi fazer amorzão que nada tem a ver como amorfake de Facebook, saca? Amor que dá inveja naqueles que só riem juntos em fotos de Instagram – diferentes de nós, que gargalhamos dos ovos mexidos que deixamos grudar na frigideira e das batalhas épicas que travamos com IVNI (Insetos Voadores Não Identificados). Sabe o que é, amor? Eu perdi – e me perdi – muitas vezes antes de você, mas, mesmo assim, acredito no tanto que podemos ganhar – e encontrar – juntos. E fico triste por tudo aquilo que, de alguma forma, indica que nosso castelo é como os outros, ou seja, vulnerável à nossa humanidade e coleção de imperfeições.

    Sabe o que é, amor? O silêncio daqueles que amamos pode doer bem mais do que mil xingamentos desferidos por gente que não faz a menor falta quando some.

    Sabe o que é, amor? Dormir brigado com você é um vale-pesadelo.

    ass-ricardo


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