• Mulheres unidas jamais serão vencidas
  • Mulheres unidas jamais serão vencidas


    Depois de uma vida inteira no interior, se mudar para a cidade grande pode ser particularmente problemático. Passei por isso há exatamente um mês,  quando resolvi me mudar para estudar e também para me sentir mais livre – eis os malefícios (ou não) de se ter uma alma expansiva.

    Meu deslumbramento era diretamente proporcional ao meu desespero. Atravessei fora da faixa de novo. Quase fui atropelada, de novo. Caramba, porque eu entrei nessa rua? Eu não sei onde estou. Porque a distância entre a minha casa e a casa da minha melhor amiga precisa ser tão grande? É impressão minha ou estou realmente me sentindo muito mais solitária agora que já não moro num interior onde as pessoas sentam na porta de casa pra pegar um ventinho e falar da vida alheia?

    Não era impressão minha. Cidade grande é realmente um troço solitário. As pessoas estão sempre apressadas demais para olhar na sua cara – bem, na Bahia isso é muito mais ameno, é verdade – e é difícil confiar em quem quer que seja.

    Mas eis um oasis na selva de pedra: um grupo de mulheres soteropolitanas que têm apenas um propósito: a sororidade.

    Elas arranjam emprego para a moça que apanha do marido e não tem dinheiro pra sair de casa – eventualmente, elas abrigam umas às outras em suas próprias casas. Elas prestam serviços gratuitos para outras mulheres. Elas cuidam dos filhos de outras mulheres. Elas fazem vaquinha para pagar o aluguel umas das outras. Elas fazem boicote contra estupradores de outras mulheres. Elas alertam umas às outras sobre homens abusivos. Elas te abraçam e te consolam se você precisar e te recebem de braços abertos. E elas me convenceram, para o meu alívio, de que nós somos umas pelas outras e isso é suficiente.

    Eu estava quase me deixando entristecer por pensar que seria esse grupo um caso isolado. Mas aí eu lembrei da vez em que uma mulher se meteu entre mim e um cara que tentava me encoxar no ônibus. Lembrei de quando corri desesperada para alcançar uma mulher que caminhava solitária na minha frente em uma madrugada deserta, para caminharmos juntas. Lembrei de uma moça que me ofereceu uma carona no facebook porque não havia como chegar a tempo para um ato feminista do outro lado da cidade. Lembrei de uma menina que me defendeu de um projeto de assediador na oitava série (nós nunca havíamos nos falado antes). Lembrei das amigas de cinco minutos que fiz em tantas filas de tantos banheiros de tantas baladas.

    E concluí, então, o óbvio: não posso acreditar no que dizem a respeito das mulheres porque eu sou uma mulher e, naturalmente, eu sei o que é ser uma mulher. Eu sei quem somos independente de tudo o que tentam nos convencer que somos.

    Competir com outra mulher por um homem ou pelo que quer que seja quando posso simplesmente amá-la é muito mais do que incompreensível. É cafona.

     ass-nathalie


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