• Você vai perder todos os seus amigos
  • Você vai perder todos os seus amigos


    Por onde andam seus amigos da classe-de-não-sei-qual-ano-foi-importante? Aqueles amigos que você não reconhece mais, nem imagina o que estão fazendo da vida. Gente que já foi morada tua e hoje em dia nem conhece o capacho da entrada do teu apartamento em outra cidade.

    Uma coisa que acontece quando a gente cresce é que as amizades se dissipam. E não é pelo motivo que nós costumamos defender, aquela coisa de quem for amigo de verdade ficará. Nada disso. É que amizades dependem de um certo esforço consciente para que permaneçam na vida da gente.

    Te explico meu ponto.

    Lá no colégio, na rua em que você morava, no antigo emprego, na faculdade e em qualquer lugar no qual você tenha feito amigos, a convivência tornava as coisas um pouco mais fáceis. Não sei se vocês passavam pelo mesmo momento de vida, mas algum ponto os conectava. Ver alguém todos os dias, almoçar com alguém em reuniões de segunda à sexta, sair para a casa dos mesmos amigos aos finais de semana. Era a vida dando um jeitinho de fazer com que a afinidade (ou as diferenças) entre vocês desse espaço para algo mais profundo. Daí alguns anos se passam e você mal troca meia dúzia de palavras com essa pessoa. Por que será?

    Manter amizades requer tempo e esforço. Requer uma consciência absurda em torno da existência de outra pessoa que não está bem na sua frente. Requer procura e vontade de saber como andam as coisas, como vai a vida, o que tem feito, marcar almoços de sábado com mais frequência, fazer ligações nos intervalos das consultas médicas. Não deixar para depois, para as reuniões de um ano, para os aniversários. Não deixar o outro para depois ou achar que tê-los no Facebook resolve a questão da proximidade. É necessário que você tente verdadeiramente estar por perto, mesmo morando em outro país.

    Caso contrário, o cotidiano apaga o outro. E não é por ordem de importância ou de sentimento. Aposto que tem gente que você ama e não fala mais, que vê de vez em nunca e parece que as coisas nunca mudaram, como se vocês fossem novamente dois adolescentes olhando para um caminhão de lixo numa praça, rindo chapados numa noite de sexta-feira. As pessoas carregam consigo boas memórias das quais fizemos parte, nós também carregamos. O problema todo reside em deixar que essas memórias virem museus, lotados de lembranças antigas que não se renovam, da vida do outro que não saiu da última atualização sincera durante um papo extenso para reclamar da vida.

    Tem muita gente que nós amamos e adoramos por aí que se tornam indivíduos invisíveis na nossa rotina corrida. E se não existe um esforço consciente de agir em torno disso, o destino também não vai colaborar para mantê-los ali por perto. No fim do dia, as pessoas que foram protagonistas da sua vida e que construíram coisas especiais com você só serão mencionadas nos antigos álbuns de fotografia, nas fotos de Instagram, nos textos que você escrever para algum lugar. E se você não quer que elas tenham esse fim, aproveite que o telefone está por perto e evite que isso aconteça. Você tem o poder de trazer o passado para o presente nas suas mãos. Não desperdice isso.

     

    daniel


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