• Sobre as delícias dos 30
  • Sobre as delícias dos 30


    Andar com os cabelos ao vento, tirar o sutiã no final do dia, passar fio dental depois daquele rodízio de churrasco, acordar no meio da madrugada e descobrir que ainda tem mais duas horas (ou que sejam cinco minutos) de sono. Libertador para não dizer revigorante. Daquelas sensações que fazem um dia de aborrecimentos valer a pena. Mas nada supera o poder do foda-se. Chutar o balde, desapegar-se dos padrões, fechar o livro interminável da culpa. Das dores e delícias da maturidade, gratidão mesmo a gente deve à maturidade.

    Descobri que a vida podia ser mais leve bem próximo aos 30 anos. Quando eu me dava ao luxo de dormir mais vinte minutos em troca daquele tempo destinado ao rímel, blush e secador. A cara na rua não estamparia a Vogue do mês, mas eu havia me desligado completamente dos olhares que se questionavam se eu estava com depressão, cansada ou doente. Na verdade eu estava ótima. Serena, com menos olheiras e mais disposição. Apenas não ostentava as bochechas coradas que a sociedade acreditava ser o certo para uma garota da minha idade.

    Aos 30, com certa estabilidade emocional, já era admissível um final de semana com pelos. Não que a meta fosse ser desleixada, mas a associação cretina de que o cara que escolhi para estar ao lado não saberia me amar sem uma lâmina de barbear não fazia mais sentido. Eu podia diminuir o ritmo em troca de abdicar de alguns pormenores que aceleram nossa rotina já tão corrida. Amar agora era menos dramático, menos doloroso, menos vazio. Nós aprendemos a lidar com pelos. E com rugas, culotes, o humor transitório da TPM e o sanduíche nada fitness do happy hour de quinta.

    Adeus paradigmas, julgamentos sociais, sorrisos atravessados, foda-se o recalque alheio. Se tem uma coisa que a gente não é, é obrigada. A nada. O salto, o batom, a depilação, a unha feita, a sentar “feito mocinha”. Quem não sabe lidar com seu melhor modelito dia a dia, sua cara lavada, com o rabo de cavalo de quem não teve tempo para lavar os cabelos pela manhã não merece seu melhor vestido.

    Foda-se o que o outro acha que você deveria ser. A beleza está na raça, na batalha, no sorriso no rosto de quem banca as próprias contas. O resto é palpite inconveniente na vida alheia e nada pior do que gente futriqueira. Se ame, durma mais, diminua o ritmo. Se hoje o dia é de rasteirinha, amanhã é de paetê e salto agulha. Azar de quem acha que mulher é uma só e deve sempre ser a cópia perfeita das modelos da Victoria Secrets. Mulher é camaleão dos mais selvagens. Mostre-nos o sol, que decidiremos ou não te embriagar com as nossas melhores cores (e amores). No nosso tempo, não de acordo com as suas expectativas.

    danielle-assinatura


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