• Não se acostume com relações tóxicas
  • Não se acostume com relações tóxicas


    Muito se fala a respeito da capacidade que o ser humano possui de se acostumar aos ambientes mais inóspitos e hostis. Basta sintonizar a tevê no Discovery Channel e, muito provavelmente, verá famílias inteiras que conseguiram se adaptar ao frio extremo do Alasca, peladões que aprenderam a dormir em meio a insetos pernudos e a uivos não identificados, pescadores de caranguejo familiarizados a um ganha-pão, no mínimo, perigoso pra c…

    Tudo sempre retratado de um jeito que eleva a adaptabilidade humana a patamares heroicos. O que pouco se comenta, porém, é: o inegável potencial humano de adaptação – quando somado à escassez de amor-próprio, coragem e referências boas – pode ser extremamente nocivo.

    Já reparou na quantidade de gente acostumada a relacionamentos mais tóxicos do que suco feito com água do Tietê? Gente que, há anos, vive uma relação corrosiva na qual os quebra-paus são mais comuns do que os momentos de paz, as demonstrações de ciúme doentio são mais recorrentes do que os incentivos à liberdade, os berros desrespeitosos rolam com mais frequência do que os gemidos, o “Você vai sair assim?” ocorre mais vezes do que o “Ficou linda dentro desse vestido!”… Pois repare. E tente não sentir seu estômago embrulhar e uma incontrolável vontade de meter a colher, e dizer: “Você precisa acordar, pessoa! Precisa perceber que existem muitas alternativas melhores para você. Ou melhor: precisa notar que todas as alternativas são melhores do que aquela a qual se sente acorrentada!”.

    Você é uma dessas pessoas? Sério? Então, pelo seu bem, desacostume-se a essa relação espinhosa!

    E daí que você disse “sim” sobre o altar e assinou um papel no cartório? E daí que você planejou um futuro com o cidadão? E daí que você já passou dos trinta? E daí que o relacionamento da sua best friend forever, aparentemente, está dando certo? E daí? Se a sua relação, há tempos, não faz bem algum, por que continuar insistindo nela, dando “coraçãozada” em ponta de faca? Por quê? Por vergonha de dizer à sua família e às amigas que não rolou como esperava? Por medo de não achar um novo amor e, como os atrasados costumam dizer, “ficar para a titia”? Por achar que, neste mundão, ninguém além do traste vai querer você? Por acreditar que possessividade, falta de respeito e abusividade são comportamentos que existem em todas as relações? Não sabe? Digo-lhe: você precisa se amar mais, parar de se contentar com as migalhas secas que tem recebido, acreditar que coisas muito melhores podem ser suas se você, de uma vez por todas, desacorrentar-se desse medo de tentar de novo, e de novo, e… Até encontrar um colo no qual, imediatamente e sem muitos esforços, vai se acostumar a permanecer abrigada (o que é bem diferente de “obrigada”, note).

    Discussões? É obvio que rolam em relações saudáveis. Contudo, se em vez de acabar em pizza ou na cama, toda divergência culminar em discussão – e toda discussão ultrapassar os limites do respeito e da educação! -, corra para as montanhas, já. Tapas? Na hora H e com o seu consentimento, podem até elevar o tesão. Porém, se já rolou sem você autorizar e do jeito que fere por dentro, diga que esqueceu a carteira no carro e não volte nunca mais. Vou além: faça um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima. Pois, apesar das coisas que ele provavelmente lhe disse, isso não é amor. Ou machuca aqueles que você ama? Ah bom! Ciúme? Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu. No entanto, se por ciúme ele “manda” você trocar de roupa, não sair sem ele ou parar de falar com algum amigo, invente que precisa buscar sua vó Geralda na rodoviária e nunca mais dê as caras. Tchau.

    Ame-se a ponto de fugir, sem pensar meia vez, de todas as relações que mantém com gente que lhe trata como objeto ou passatempo para noites frias e sem Wi-Fi. Tenha coragem para recomeça quando notar que errou na aposta, que investiu seu amor num ser que, em você, não investe nem um selinho, elogio ou cafuné. E mesmo que seu parâmetro de parceiro seja o babaca com quem está, acredite: há coisas muito melhores por aí. Ficar solteira, inclusive. Complete a frase: antes só do que _______________.

    Nesta vida, para o nosso bem e por necessidade, precisamos nos acostumar a muitas coisas que doem/incomodam um pouco, como exames de sangue, saudade de quem precisou dar um pulo na “gringa” e tarefas profissionais que não nos agradam. Faz parte. O que não faz parte – e nunca deve fazer – é se acostumar a coisas que não fazem bem algum, como o cara que, quando flagra você chorando, não faz nada para mudar isso, nem careta ou brigadeiro de micro-ondas.

    Se lhe disseram que amor deve doer constantemente e causar uma chuva de quiproquós, confundiram as bolas. Com MMA, talvez. Porque o amor verdadeiro é muito mais remédio do que doença. É mais asa do que âncora. É mais antídoto do que veneno. É mais sorriso do que bico.

    Acostume-se a uma poltrona de avião minúscula, a cachorros que passeiam no shopping de sapatinho e, até, a jantares sem carboidrato. Mas nunca, em hipótese alguma, acostume-se a relações que, à sua saúde, são piores do que tomar sol do meio-dia sem protetor e comer fritura em todas as refeições.

    ass-ricardo


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