Ela é só uma garota que caminha sem rumo e chutando pedrinhas quando a rua está deserta. Dessas que mantém o volume dos fones sempre no máximo, cujas músicas nunca são de rádios modernas, mas sim daquelas saudosas que tanto falam com sua alma.
Às vezes ela gosta de fechar os olhos enquanto faz seu percurso, respirar fundo e imaginar um outro cenário e um outro tempo. Ela tem mania de se enxergar em realidades paralelas, é do tipo que tem asas e cujos pés raramente tocam o chão.
A verdade é que ela nunca se ajustou muito bem e mesmo que não entenda os motivos, sempre sentiu-se deslocada. Ela é singularidade num mundo que exige pares perfeitos. Sua solidão é do tipo quieta, invisível e só aparece quando se fecha dentro de si, abrindo mão dos diversos papéis roteirizados e desempenhados. Ela aprendeu a calar os ecos do seu mundo turbulento, com o silêncio do imaginário.
Ela come pizza sentada na cama, enquanto lê contos de fadas modernos, toma café com um sorriso no rosto observando a chuva cair em torrente pelo jardim. Enxerga beleza em cada cantinho porque tem um coração desses que não se corrompe pela plasticidade da vida. Ainda são os detalhes sutis que a comovem.
Ela nunca teve muito, por isso guarda coisas pequenas, mapas de lugares que visitou, poemas escritos à caneta em papéis coloridos, fotografias em preto e branco, livros amarelados que tem mais idade que ela mesma… Suas memórias são miúdas, mas são parte dela.
Ela é forte mas quer ser protegida, gosta de dias calmos mas nunca tediosos, adora os presentes mas prefere os cartões, lê filosofia mas se deixa tocar por uma canção de notas simples e honestas. Gosta do conforto e do sossego outonal, é mais complicada que a maioria e vai hesitar antes de se entregar. Porém vale a pena insistir, acredite. Se conseguir conquistá-la, ela será sua melhor e mais incrível história.
