Tem felicidade no sorriso pela manhã. No cafezinho coado na hora e servido naquela xícara que vocês ganharam juntos na tenda de argolinhas do parque de diversões. Não tem pijama, mas tem a camiseta do basquete que por pouco vira um vestido. É fim do mês, a grana tá curta, só que (olha a sorte!) na geladeira tem as sobras da semana que dá para fazer um mexido bem gostoso. Sem pompa, sem requinte, mas recheado de amor. Tem um monte de coisa que lá onde dobra a esquina não se compra com dinheiro nenhum no mundo. A felicidade no fim mora na falta. De pudor, de exagero, de mimimi.
A roupa suja está fora do cesto, mas ele compensou com um risoto aos quatro queijos de deixar qualquer grande chef babando. Ela se irritou pela manhã com a bagunça deixada na cozinha, mas fez as pazes durante a noite ao deixar o prato preferido dele pronto no micro-ondas para o jantar. Hoje foi dia de rock, mas amanhã vai ser de sertanejo, que é para agradar aos dois e sorriso nenhum passar vontade. Ele estava de péssimo humor e esbravejou sem necessidade a sua ira. Ela respirou bem fundo, abriu a porta do silêncio e deixou sem pressa o furacão passar. A felicidade também mora na renúncia. Do ego, da certeza, da superioridade.
Os casais felizes não são ricos financeiramente, não fazem as viagens mais exuberantes, muito menos frequentam semanalmente as baladas da moda. Eles são felizes exatamente com aquilo que têm. Seja pão com ovo e tomate ou vinho com macarrão ao funghi. Não existe uma fórmula secreta. Existem sim duas pessoas que se amam, com disposição de sobra para fazer dar certo, e que transformam qualquer cilada em um programa super divertido. O segredo dos casais felizes é justamente a paciência, a leveza, a tranquilidade, e acima de tudo, a vontade. A felicidade mora no colo durante o filme, no abraço depois de um dia agitado de trabalho, na mensagem de bom dia naquela segunda-feira chuvosa, no amor simples e puro como deve ser.
De que adianta todo o dinheiro do mundo se na hora da intimidade surge o receio bobo do mau hálito, do cabelo desgrenhado, da depilação atrasada. Amor bom é amor simples. É aquele que sabe reconhecer um erro, que não deixa qualquer bobagem estragar um clima agradável, que sabe lidar com alegria com os resquícios do tempo. Ao mesmo tempo é aquele que sabe ponderar, pontuar sem necessariamente criticar, que tem cautela e respeito na hora de falar, pois sabe que uma frase dita sem cuidado é chama que incandesce ainda que se tenha consumido todo o combustível. Felicidade é ser para o outro a paz que ele tanto precisa.
Eu sei que você chegou até aqui em busca de uma fórmula milagrosa de permanência e reciprocidade. E de fato esta mágica existe: se chama desapego. Se livrar dos nossos pré-conceitos, das nossas ideias muitas vezes fracassadas de plenitude, da necessidade de estar sempre certo, por cima e de ser absolutamente inflexível. Amar é ver a vida com os olhos mais humildes. Reconhecer que existem outras razões além das nossas e abraçar esta diversidade como se fosse única no mundo. Felicidade é descer alguns degraus de escada para conseguir mirar um sonho mais alto.
O segredo é abandonar tudo aquilo que você achava que sabia sobre o amor e se permitir aprender ao lado de alguém sensacional. Se fosse fácil não existiriam tantos desencontros ao longo da travessia. Seria óbvio, clichê e padrão. Amar na maior parte do tempo é não saber. Uma dança deliciosa que se um erra o passo, o outro ainda consegue manter o equilíbrio. Ora inverno, ora verão, ora tempestade. Em um mundo em que trocar de abrigo é muito mais conveniente do que perfumar o ninho, os casais felizes não são perfeitos, eles apenas não desistem um do outro. Simples assim.