• Deixe o seu amor ser ele mesmo
  • Deixe o seu amor ser ele mesmo


    Eis que você conheceu o homem da sua vida: bem-humorado, inteligente, festeiro e cheio de amigos. Você se apaixonou pela gargalhada dele, pelo jeito que ele mexe na própria barba enquanto dirige, pelo perfume que ele escolheu e pelo talento nato em ser Mister Simpatia até com a atendente da farmácia.

    Você se apaixonou por cada pedacinho dele – e isso inclui aquela liberdade genuína que já nos assiste no exato momento em que nascemos. Isso inclui o mau-humor num domingo de ressaca, a impaciência para comédias românticas hollywoodianas e as receitas improvisadas e intragáveis que ele insiste em preparar.

    Quando aceitamos alguém em nossas vidas, aceitamos tudo o que vem junto: filhos, tatuagens de mau-gosto, amigos antigos, falta de talento na cozinha ou mau-humor matinal: absolutamente tudo o que invariavelmente faz parte do conjunto da obra, tudo o que compõe aquele ser ímpar que nos cativou.

    A verdade é que o amor nos confunde. E depois de algum tempo, de alguma intimidade, de alguns domingos de ressaca e de algumas cenas homéricas com atendentes de farmácia, tendemos a querer transformar o outro – aquele que, antes de nós, já existia tão apaixonantemente a ponto de nos atrair – no reflexo de nossas próprias projeções.

    É difícil resistir ao ímpeto de moldar ao nosso gosto a personalidade do outro: afinal, estamos tão juntos que até parecemos um. Exigimos que ele saia menos com os amigos. Que seja menos simpático com as amigas, afinal, ele é um homem comprometido! Pedimos que deixe de frequentar os lugares que frequentava, de fazer os programas que fazia, de cultivar as paixões que cultivava… e, antes que percebamos, aquela pessoa singular por quem nos apaixonamos deixou de existir. Morreu sufocada pelas nossas cobranças, por aquilo que nós esperávamos de alguém que pudéssemos amar, pela nossa mania irremediável de moldar nossas relações ao nosso próprio capricho.

    Transformou-se numa monótona projeção de nós mesmos, como um holograma que atende a todos os nossos caprichos e não nos dá trabalho – e em contrapartida não surpreende, não excita, sequer existe, sob certo ponto de vista.

    Tiramos do outro o bem mais valioso que alguém pode ter – a própria identidade, a liberdade de ser exatamente quem se quer ser – e tiramos de nós mesmas a chance de conviver com alguém que nos impulsione, que nos estimule em vez de simples e roboticamente nos satisfazer.

    Dar ao outro liberdade significa muito mais do que “permitir” que ele saia com os amigos ou viaje sozinho – significa manter, a despeito da inevitável intimidade dos amores de longa data, um espaço seguro para que o outro construa (ou mantenha) o seu próprio universo particular. Para que não façamos do amor uma fórmula complexa na qual, no final, nenhum dos elementos mantém suas características mais intrínsecas.

    É, permanecendo ao lado de quem se ama, apoiar os seus sonhos e incentivá-lo a caminhar com as próprias pernas, como quer que seu coração lhe ordene.

    É ouvir, a cada dia, a poesia que nos cantaram os Doces Bárbaros: “O seu amor, ame-o e deixe-o ser o que ele é.”

    ass-nathalie


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