• Se apaixonar é fácil – o difícil é  se manter apaixonado
  • Se apaixonar é fácil – o difícil é


    se manter apaixonado


    Eram um casal de namorados desses exemplares – se é que existe medida ou padrão para o amor. Daqueles que se chamam de amor mesmo quando discordam um do outro, que compartilham um pensamento em comum com um olhar que só mesmo os dois entendem, e que se respeitam de um jeito que só o amor maduro e limpo de orgulho é capaz.

    Lembro que ela encostava a porta do quarto todas as vezes que alguém fazia barulho pela casa e ele precisava dormir. Preparava o seu risoto favorito enquanto ele dizia “deixe que eu cozinho, você está cansada!” Ele lhe comprava plantas lindas em cacos de terra em vez de flores mortas no dia dos namorados. Ela fechava cigarros de tabaco orgânico pra ele.

    Vez ou outra eles eram flagrados se olhando apaixonadamente durante uma situação qualquer. Falávamos de um assunto cotidiano e lá estava ela, olhando-o como se ele fosse o homem mais apaixonante do mundo. Bem, ele era o homem mais apaixonante do seu mundo. Eram a prova de que o amor leve, puro e respeitoso ainda existe.

    Casaram-se numa tarde quente, ele de camisa estampada e ela com flores naturais nos cabelos. Comemoraram feito duas crianças, dançaram a música que ouviram no dia em que se conheceram, partilharam litros de cerveja com os amigos mais chegados, olharam-se daquele jeito apaixonado que faz com que acreditemos no amor uma vez mais.

    A vida impôs suas regras. As contas chegaram, o ciúme bateu à porta, a impaciência pulou a janela. A mãe dela começou a visitá-los demais. O irmão dele já não concordava com o que ela dizia. Ela já não queria fechar os seus cigarros de tabaco. Esqueceu a receita de risoto. Ele não cozinhava quando ela estava cansada. Pensaram que o amor pudesse se manter de pé sem aquelas colunas simples, mas numerosas, que o sustentaram desde o início. Deixaram de ser quem foram. Uma morte terrível para nós, que acreditávamos no amor quando víamos os seus olhares.

    O amor é um filho mimado. Não consegue sair da barra da saia daquilo que o gerou – ele precisa dos detalhes simples que o fizeram brotar. Ele precisa dos risotos, das portas encostadas para proteger o outro do barulho, da voz mansa, das pequenas concessões, das gentilezas sutis. Ao contrário, sucumbe.

    É fácil se apaixonar quando não se conhece o mau-humor matinal do outro, quando não se sabe que ronca e desafina eventualmente. É fácil amar enquanto o espaço, o estresse cotidiano não é partilhado, as tarefas domésticas não precisam ser conciliadas. É fácil amar o outro sem enxergá-lo tão de perto assim, vendo-o apenas naquilo que nos convém.

    Mas o amor pra valer, esse precisa de muito mais que beijos longos e orgasmos múltiplos. Ele precisa de paciência, de jogo de cintura, de fé no outro. Ele precisa de leveza quando a rotina pesa. As paixões, em geral, são baratas. Caro é mantê-las intactas quando o outro deixa de ser só mais um sorriso fácil.

    ass-nathalie


    " Todos os nossos conteúdos do site Casal Sem Vergonha são protegidos por copyright, o que significa que nenhum texto pode ser usado sem a permissão expressa dos criadores do site, mesmo citando a fonte. "