Amar em tempos de crises existenciais e superficialismo em alta exige coragem. O problema é que a maioria de nós é covarde para lidar com os próprios sentimentos. Queremos amor, mas não sabemos o que fazer diante dele. No começo tudo é lindo: atração, paixão, fogo e intensidade brigam para ver quem sobressai. Depois vêm as cobranças, rotinas e incertezas, que insistem em invadir o relacionamento. O outro não é mais tão especial quanto parecia no início, e a sensação é recíproca. Enquanto o casal ao lado demonstra estar em chamas, somos icebergs.
Melhor mesmo é romper sem dar muita explicação ou olhar nos olhos. Pra que insistir em algo que está fadado ao fracasso? Há quem diga que é necessária muita coragem para uma covardia dessas, mas preferia enfrentar a dor de uma conversa honesta a ter que lidar com as consequências de assuntos inacabados. Pena que não resta muita escolha quando alguém pula do barco e nos larga afundando. E o resultado é que deixamos a mágoa nos consumir e abrir feridas que estão longe de cicatrizar.
O tempo passa e o status é um só: “de copo sempre cheio, coração vazio”. Temos medo de permitir que outra pessoa se aproxime. Medo de repetir o erro, de levar outro choque violento no peito. Não adianta insistir. O amor não pode ser uma coisa forçada ou implorada. E muito menos é feito de açúcar. Se tudo se resumisse a carência, solidão ou falta de amor próprio, nos contentaríamos com doses homeopáticas de paixões de baladas. Sábia mesmo é Rita Lee, que canta que “sexo é escolha, amor é sorte”.
Certa vez, um amigo me disse que esse negócio de não colocar ponto final é coisa de homens. Como eles não sabem finalizar a relação, deixam tudo de qualquer jeito. Indo contra a tese dele, eu acho que é mal da nossa geração, que muitas vezes carece de maturidade emocional para encarar a vida. Simples assim? Não, nunca é. Entender e aceitar nem sempre são a mesma coisa.
Vejo frequentemente gente procurando no parceiro algo que não possui. Não adianta criar ilusões nem cair na cilada de cercar-se de pessoas o tempo todo para preencher o vazio, muito menos culpar o outro quando o plano der errado. Bom mesmo é se completar sozinho. Dessa forma, se o relacionamento terminar, ninguém estará fazendo companhia à Samara, no poço.
O amor é outra coisa, sempre foi. Um dia para de doer. E quem sabe surge alguém que fique para consertar os eventuais furos do barco em vez de pular. Alguém corajoso o suficiente para enfrentar a infantaria que deixamos a postos para proteger nosso coração.