• O amor é barrigudinho
  • O amor é barrigudinho


    Perfeição é uma coisa que os filmes infantis, os seriados da TV e os protagonistas da novela das oito venderam para você. O amor da sua vida ostentando um corpo perfeito, dentes ofuscantes de tão brancos, um cabelo sedoso e incorruptível ao se levantar da cama, em suma, o retrato impecável da fantasia perfeita. Um conto de fadas que te enche de frustrações, expectativas, e muita, muita solidão. Basta colocar o salto 15 na rua para descobrir que o mundo é feito de pessoas deliciosamente normais. Ou a gente se satisfaz com a magia e o encanto de ser convencional, ou espera pacientemente para que o ser humano perfeito cruze o nosso caminho. Um conselho para esta jornada: um balde de pipocas com refil, um casaco bem quente e um bom creme antirrugas para segurarem a fome, o frio e o tão precioso tempo.

    O amor é barrigudinho, tem um péssimo hálito matinal, uma barba por fazer, e gosta de uma cervejinha com os amigos. Ele vai arrotar sem querer quando estiverem a sós, vai roncar em dias de sono pesado e soltar um palavrão tenebroso durante a final do campeonato de futebol. O amor é banal, clichê e totalmente despretensioso. Ele cultiva a permanência onde se sente em casa, em um abrigo sem vírgulas, sem mimimis, sem desvencilhar a boca do beijo pela manhã ou sem precisar esconder a gordurinha do toque carinhoso. Se apaixonar pelas qualidades é muito fácil, difícil é encarar a realidade quando o príncipe encantado tira a capa de herói no final da noite, porque sim, no fundo, no fundo, todo mundo tem uma parte de si que prefere camuflar.

    Esperar pela pessoa perfeita além de inútil é chato. Pessoas normais são cheias de surpresas, de versões encantadoras, de novidades que vão muito além do óbvio. Elas não correm para o espelho antes do parceiro acordar para parecer deslumbrante ao primeiro olhar, não se preocupam com a cara de derrota que toma conta do seu semblante durante uma gripe e consequentemente não vão dar a mínima para a sua calcinha bege ou para o seu bad hair day. O bacana dos caras “comuns” é que eles também procuram por pessoas com muito mais a agregar do que um belo par de pernas estonteantes.

    Isso de forma nenhuma quer dizer que devemos ser descuidadas ou que procuramos por caras maltrapilhos. Apenas quer dizer que na nossa avenida não existe espaço para máscaras ou todo um baile de carnaval. E acredite, ninguém é 100% perfeito. Aquele cara todo engomadinho da balada certamente tem chulé, um beijo ruim, ou uma pegada frouxa, de quem acha que se “basta” pura e simplesmente porque exibe um braço trabalhado de academia. Bom mesmo é o magrinho que te surpreende com uma química digna de cinema, o nerd que esconde debaixo dos óculos a tão sonhada paciência nas preliminares, o gordinho carinhoso, e aquele cara do cursinho de inglês que não é lá o seu estereótipo preferido de homem, mas te recebe com um sorriso maravilhoso todas as vezes que você chega para a aula.

    O amor além de barrigudinho é cego. Nos força a tatear a essência do outro através do coração, dos abraços, do toque das mãos, ao invés de simplesmente se apegar ao sentido mais subjetivo: o olhar. O cara pode ser um deus grego e não ter culhões para lidar com uma celulite, um pé de galinha ou um culote avantajado. E convenhamos, ninguém se relaciona para ser cobrado sobre como anda a sua relação com o espelho. Parcerias foram feitas para serem divertidas. Aceitar o lado “imperfeito” do outro, tornar esta “desvantagem” mais um motivo para o amor, e aproveitar as dores e as delícias de se relacionar sem julgamentos. Abrir as janelas para que o príncipe encantado venha de foguete e não de cavalo branco, para poder agradecer sempre e todos os dias por cultivar um relacionamento de verdade e não uma coreografia amorosa ensaiada para um espetáculo de teatro. Pessoas aparentemente banais são fascinantes porque nos lembram exatamente quem a gente é depois de tirar a maquiagem e o cílio postiço: um molde bem enfeitado daquilo que deve ser bonito por dentro. De perto, ninguém é perfeito, mas de longe qualquer um leva gato por lebre (ou príncipe por sapo).

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