Em quantos cacos a vida ainda conseguirá lhe estilhaçar? Não importa. Porque o meu amor, acredite se quiser, é a Super Bonder que você precisa para se reconstruir, tim-tim por tim-tim, cadim por cadim, “Amanhã será melhor do que hoje!” a “Amanhã será melhor do que hoje!”, até que você, num espelho recém-desembaçado, reencontre o seu sorriso mais espontâneo, aquele que por muitos já foi dado como extinto e que pode, sem dúvida alguma, ser capa de revista.
E você se engana, redondamente, se acha que o meu “eu amo você!” só possui validade em cenários nos quais distribuir amor até parece obrigatório, como nos bares de Madrid pintados com as tintas de Almodóvar, nas tropeçantes ruas de Paraty e sob o céu de Santiago, que dispensa filtros e não cabe em pinturas. Nada disso! Meu amor também vale no cinza, nas trevas e no caos. E, embora você não saiba, é sentimento mais multiúso do que Bombril, pois serve como balde para remover as lágrimas derramadas que podem ameaçar a flutuação do seu barco, como agasalho para esquentar o seu coração em dias de hipotermia sentimental e como colete à prova de desrespeitos que, no peito, abrem rombos maiores do que tiros de cartucheira calibre 12.
Sei que em nosso casório não convencional – e só nosso! – ninguém mandou aquele papo de “na saúde e na doença (…) na alegria e na tristeza”, porque, em vez de padre com microfone na mão, lá havia apenas lama, cerveja, uma multidão saltitante e muito rock and roll. Mas, sinceramente, eu não preciso desse tipo de conselho para decidir que, agora que tudo ficou PB pro cê, eu permanecerei ao seu lado da mesmíssima forma que fiquei quando conseguiu um novo emprego, nos domingos alegres em que dizimamos baldes de pipoca e nas vezes em que a vida lhe deu pé, ao invés de caldos e tapas na cara.
A mesma “MacGyverbilidade” que apliquei para criar um travesseiro no avião, utilizando apenas com um cachecol, um agasalho e uma camiseta, certamente, será empregada na produção de mecanismos, experiências e caretas capazes de assassinar a escuridão em que hoje você se vê, ou melhor, que neste instante lhe impede de enxergar o tanto de bom e belo que há ao seu redor, por todas as partes. E se não der para fazer luz – coisa que duvido! -, eu deitarei ao seu lado, pele com pele, e, em meio à escuridão, ficaremos a papear sobre as nossas aventuras do passado, como fizemos muitas vezes, até que o sol, sorrateiro como só ele sabe ser, consiga se desvencilhar das garras das nuvens e, por uma pequena fresta da janela do seu quarto, dê as caras. E lhe chame para um rolê na Liberdade com direito a tempurá e outras gostosuras cujo nome eu nem sei pronunciar.
E nem adianta me pedir para desistir de você e de lhe erguer, pois eu não vou, já decidi. Eu desisto de coisas sem muita importância, como a academia e a vontade de abrir um negócio. Mas desistir de lhe ver transbordando de alegria? Jamais. Nem que eu tenha que trocar minha alma por baldes de Nutella. Ou que eu seja obrigado a fazer um pacto (louças lavadas em troca de pizzas grandes com bordas recheadas) com o dono da pizzaria que fica em frente ao seu prédio. Não me importa, mesmo. Pois eu sei que a minha palavra, aquela que já mudou a vida de muitos leitores, também cairá bem à sua existência; como a luva que lhe esquenta quando o mundo esfria e que protege os seus dedos da fervura de uma lasanha recém-tirada do forno.
Eu não vou mentir e afirmar que posso controlar as causas dos seus problemas. Porque, infelizmente, eu não posso. E não mato chefes, inquilinos ruins e juízes (apenas baratas, mosquitos e a fome de pessoas queridas). Mas saiba que lhe ajudarei a lidar com as consequências do que existe de incontrolável nesta vida, por piores que possam lhe parecer ao primeiro baque. E que lhe abraçarei, bem forte, quando você precisar de abrigo para escapar das tempestades que vêm para nos ensinar a valorizar qualquer mínimo segundo de tempo bom.
Como bem disse o meu camarada Neruda: “Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida.”