O lado ruim da programação variada da TV a cabo é a aleatoriedade de programas em que você pode cair. No último domingo passava alguma episódio de alguma série que desconheço, e a preguiça de pegar o controle foi maior que a de ignorar o que passava na tela. No tal episódio o noivo largava a noiva bem depois dela ter dito “sim” no casamento. Ele sai correndo da igreja rumo a um destino incerto de liberdade enquanto ela, mortificada, chora em estado de choque na frente de toda a igreja.
E daí eu vos pergunto: o que leva alguém a chegar às últimas consequências e pular do barco quando tudo já estava encaminhando? Não é um ato de coragem ou de libertação, é uma puta falta de consideração com a outra pessoa. Sabe por quê? Porque nesses casos não houve ilusão, não era fruto de idealização e expectativa, ninguém quebrou o coração por conta própria. Nesse caso houve promessa, planejamento, gastos financeiros e emocionais envolvidos. E o tal cara não respeitou isso ao abandonar a noiva.
Quando a gente sente que há algo de errado, a gente sempre sente antes. Os sinais vão aparecendo no café da manhã quando percebemos que a tal pessoa do nosso lado talvez não seja a pessoa da nossa vida. Vão aparecendo durante os dias juntos e o tempo que se passou junto, vão rasgando a pele feito vento frio. Os sinais do desamor ressecam e racham os lábios, ainda que ninguém – a não ser quem os sente – os veja. Eles aparecem no frio e na foto do Instagram que parecia perfeita, mas que indicava como faltava algo. Os tais sinais são tão claros que reluzem.
Já sabendo dos sinais, não havia necessidade de promessa. Se você sabia que não era aquilo, por que disse? Por que esbravejou aos quatro cantos que era amor e que queria passar uma vida ao lado dela? Não tem pressão no mundo que te obrigue a falar algo que não sente, mesmo que esteja confuso. Mamãe me ensinou que a gente sempre sabe o que não quer nessa vida, porque faz parte do nosso senso de defesa. E você não podia ter prometido que iria até o fim pra pregar uma peça e pular fora logo no momento mais importante. Você não podia ter prometido que ficaria quando sentia vontade de voar pra longe. Não podia ter prometido estadia quando teu peito clamava por outro abrigo. Não podia ter prometido isso.
O mundo está cheio de noivos por aí. Que não pensam no outro, tanto na dor quanto no constrangimento, e de gente que acha que felicidade precisa ser irresponsável. Se ele queria tanto fugir, por que não fazer isso de forma gentil? A gente não precisa nunca ferir o outro pra curar algo aqui dentro. Também não precisamos ignorar os sinais que nos damos diariamente pra perceber que há algo de errado.
Às noivas de plantão, que talvez tenham sido largadas em diferentes altares da vida, mesmo que em sentido figurado, fica a minha compaixão. E, no caso da noiva da série, fica a fica de que processos são bem-vindos. Eu recuperaria o dinheiro investido no casamento e faria o salafrário pagar por tudo – inclusive pela conta do analista.