Aquela foi a primeira vez – e com sorte a única – que eu encontrei com aquele sujeito. Após quinze minutos sentado à mesma mesa que ele, claramente, pude notar os primeiros sinais de frescura (não confundam com o uso homofóbico do substantivo). Ele chegou, deu um “oi” geral e, ao invés de pedir uma dose de uísque, uma Coca, uma caipirinha, um copo limpo para tomar a cerveja gelada que já estava sobre a mesa, ou qualquer outra bebida comum em botecos, ele chamou o garçom e, em alto e bom som, pediu um Cosmopolitan. “Que tipo de pessoa pede um Cosmopolitan em um boteco?”, pensei. Obviamente, no boteco em que nós estávamos sentados a coisa mais parecida com um Cosmopolitan, graças à cor também avermelhada, era a dose Campari. Mas o cara insistiu em rejeitar a nossa cerveja, e, com cara de decepção, perguntou ao garçom se naquele bar havia vinho em taça. “Só Sangue de Boi!”, o garçom respondeu. Então o fresco bufou para mostrar descontentamento e, com o nariz apontado para a lua, pediu uma água com gás, três pedras de gelo e duas rodelas de limão. Até aí, depois do susto inicial, pensando friamente e finalmente aceitando que Cosmopolitan não é um cocktail exclusivo dos bares presentes no seriado Sex and the City, entendo que cada um tem o direito, por mais estranho que seja, de beber – ou ao menos de pedir – o que quiser. Mas o cara não parou por aí…
Ele continuou a se mostrar uma espécie do tipo que não acha nada bom, e, em certo momento do papo, começou a falar mal de uma garota que ele supostamente (eu não acredito) havia comido na noite anterior: “Quando vi aquelas celulites na bunda, eu senti nojo. Quase não consegui comê-la!”. E ele ainda continuou: “As mulheres precisam se cuidar mais! Tem coisa pior do que tirar uma calça e dar de cara com celulites?”. Segurei-me para não dizer: “Claro que tem! Homem cheio de frescuras, por exemplo.”, mas fiquei quieto e continuei, sentindo uma leve ânsia de vômito, a observar o Capitão Frescura colocando defeitos em todas as mulheres que passavam em frente ao bar. Nem o Dr. Rey acharia tantas imperfeições no corpo das pedestres que em nossa frente cruzaram. No mínimo foi um dos homens mais chatos – bem mais do que o Faustão – que eu conheci na vida.
Sei que temos que aceitar as pessoas que tem gostos (como pedir Cosmopolitans em botecos) diferentes do nosso. Sei, também, que o mundo só é lindo graças às diferenças e à diversidade de opiniões. Porém, sinto-me incapaz de não assumir, publicamente, o quanto eu NÃO suporto homens como aquele que passou, sem exagero, mais de duas horas colocando defeitos em todas as mulheres do mundo, na cidade de São Paulo, e na falta de variedade etílica do local em que estávamos. Eu citei a Cléo Pires como exemplo de belezura e ele, com cara de bunda, disse que sem Photoshop ela não é nada. O frescalhão, depois de alguns copos de água com gás, chegou a dizer que, quando vê uma calcinha bege, sente vontade pedir para que a mulher se troque.
Eu não estou dizendo que uma bunda com celulite é mais bonita do que uma sem. E, muito menos, estou falando que a calcinha bege e grande é mais “tesônica” do que uma preta e pequena. Porém, ter que ouvir um cara dizer que sente nojo de celulites e que fica extremamente ofendido quando vê uma calcinha bege, sinceramente, não é algo fácil de digerir. Entendo que é a opinião do cara, mas, depois de ouvi-lo opinar por mais de três horas, sinto-me no direito de dar também a minha opinião: homens como ele envergonham, não apenas o gênero masculino, como também a raça humana. Podem me julgar à vontade, mas eu confesso que tenho “frescofobia”. Vocês não têm? Já viajou com alguém assim? Do tipo que coloca defeito na rua do hotel, na recepcionista do hotel, na bunda da recepcionista do hotel, na cama do hotel, no chuveiro do hotel, e em tudo que vê pela frente. Gente fresca fode o rolê.
Pessoas frescas não gostam de praia por causa da aflição que sentem da areia, não curtem ir ao campo por causa dos mosquitos que voam por lá e odeiam a cidade grande devido ao trânsito. Percebe como elas são insuportáveis? E ficar perto de alguém que não acha nada bom, acredite, não faz bem a você. O contrário também é verdadeiro: gente sem frescura, do tipo que se diverte tomando cerveja quente sobre a calçada, faz um bem danado. Como é bom ter um amigo sem frescura, do tipo que topa qualquer parada e que diz que a bisnaguinha velha esquecida no seu armário é a melhor das iguarias.
O problema não é reclamar das celulites, não gostar de calcinhas beges, falar mal de São Paulo ou pedir Cosmopolitans em botecos. O problema, em meu ponto de vista, é a soma de atitudes que, com certeza, demonstra frescura em todas as posturas de uma pessoa: da demasiada exigência em relação ao corpo da mulher, passando pela incapacidade de lidar com adversidades comuns na vida, até a total incapacidade de adaptação a cenários diferentes dos esperados. Sim, a pessoa quando é fresca, comumente, é assim em tudo.
“Frescura Way of Life” é um estilo de vida que tira a paciência de garçons, que causa desperdício de comidas boas para o consumo e que contamina ambientes inteiros. Ter nojinho de celulite só faz do cara um potencial Zé Frescura, mas, se ouvir tal afirmação saindo da boca do homem em quem está interessada, mesmo que você tenha a bunda mais lisa da galáxia, fique de olho, pois o próximo passo dele pode ser um soco na cara do garçom que trouxer Soda ao invés de Sprite, ou até, quem sabe, ouvi-lo dizer a sua mãe que o arroz dela tem muito alho e que se incomoda com os pedacinhos de batata que existem no purê delicioso que ela faz. Abra o olho!
Obs: evite os caras que só tomam banho de chinelo.