• 4 filmes para você refletir  sobre os relacionamentos pós-modernos
  • 4 filmes para você refletir


    sobre os relacionamentos pós-modernos


    Todo filme é um bom conselho, toda indicação de filme é um presente. Nem todas as possibilidades existentes na vida são vivenciadas por nós, e nessa hora, viver e absorver exemplos alheios pode fazer uma diferença significativa. Então vamos falar das ligações, vamos falar de quatro filmes que valem uma reflexão sobre os relacionamentos pós-modernos, obras que mexem em nossas estruturas, que partilham algo que talvez nos sirvam:

    1. Namorados para sempre

    Um filme falando do amor em plena putrefação. Quando o amor acaba? Há algo de muito familiar nas interpretações naturalistas dos atores, e os flashes que se revezam e que nos levam do chão ao céu dos relacionamentos. Um exame cru sobre relevos sentimentais acidentados, um longa que não nos ilude, descumpre o felizes para sempre borbulhando melancolia e revelando o processo contrário á coadunação dos corações enamorados. É uma placa de perigo, existe nele uma ressalva em relação a durabilidade das coisas. Você está preparado? As cenas de sexo no filme muitas vezes parecem burocráticas, exaustivas, um “check” rotineiro, e a expressão cansada do personagemDean (Ryan Gosling ) reflete exatamente essa ideia.

    O título do filme parece mais uma daquelas traduções idiotas para o português e acaba atraindo casais em busca de filmes “romantiquinhos”, mas na verdade trata-se uma grande ironia: as juras que fazemos em inicio de namoro. Gradualmente partimos de uma cena sensível em que Cindy (Michelle Williams) dança desajeitada ao som do violão de Dean como se ali houvesse um início de intimidade em que qualquer improviso é contribuinte para a novo da relação, e depois, de uma forma não-linearpresenciamos a vida a dois perecendo, a vida íntima tirando sua máscara agradável e se tornando agressiva e sincericída. Acompanhamos um confronto involuntário, em que um fere o outro com palavras e atitudes como formas de aliviar a frustração.

    2. Closer – Perto demais

    Perto, muito perto, “Hi stranger”, talvez o filme que consiga colocar a câmera em nossos pensamentos e acompanhar as curvas, as viradas inexplicáveis, os infortúnios que contornam traições. A personagem Alice vivida por Natalie Portman é quase uma metáfora do amor mimado: sobre sua chegada, e sobre quando ele esvai –se pelo asfalto sem despedidas e  muda de rosto e de nome, e depois ,sem muita lógica, volta atrás e implora pra ficar. Alice é imperativa, ordena, impõe, precisa sempre estar no volante e se frustra quando percebe que as coisas não estão sob seu domínio; é ela o combustível do filme.

    A personagem de Julia Roberts, Anne, possui um histórico sofrido em relacionamentos, suas cicatrizes a tornam uma pessoa reagente, fria, possui uma concavidade que a deixa misteriosa, e ao mesmo tempo seca e áspera. Anne é capaz das respostas mais cruéis e ao mesmo tempo é egoísta e sórdida em suas vontades.

    Clive Owen interpreta Larry que possui um humor ácido e ao mesmo tempo é carismático, vulgar, cruel em suas colocações e atravessa o filme se portando como o típico macho ferido. Chega ao ponto de exigir, por vingança, uma transa de Anne, para lhe dar o divórcio em troca. Sem contar a majestosa cena na boate em que ele vai até as ultimas consequências em busca do (falso) conforto de saber o nome verdadeiro de Alice.

    Por fim o personagem Dan (Jude Law ) é fechado, ambicioso, deslumbrado, medíocre e racional a ponto de mandar Alice embora, mesmo a amando, em uma cena magistral que contrapõe altruísmo e egoísmo.

    Em torno dos quatro, a canção “The blower’s daughter” de Damien Rice trafega como um quinto personagem pela trama: se os personagens são a cidade, a canção é o próprio estado (emocional) de todos, é quase um hino do olhar eriçado, um filtro protetor pra solidão, vagando e cobrindo a tristeza de cada um.

    Closer fala claramente sobre o narcisismo das pessoas e mostra como a geração pós-moderna satisfaz o ego em detrimento de qualquer acordo. Relata o rumo superficial de alguns sentimentos, o descompromisso e ao mesmo tempo a solidão e angustia vindas das relações sucateadas e restritas a matar uma sede que logo passa.

    3. 500 dias com ela:

    Um filme que inverte a lógica da mocinha que sofre pelo mocinho e traz uma nova abordagem sobre os relacionamentos  – aqueles que são sempre pautados por um ótica mais machista nas comédias românticas norte-americanas. Dessa vez é a garota que faz o mocinho sofrer, no caso Summer (Zoey Deschannel) uma gata descolada e fugidia que não tem muita preocupação em vicejar profundidades do amor. Em contrapartida, existe Tom (Joseph Gordon-Levitt), um jovem hipostasiado, que a partir de referências pop, como músicas e filmes, é dominado por uma grande idealização sobre o amor e os relacionamentos. Seguimos então por uma cronologia desordenada, os 500 dias que circundam o momento em que o casal se conhece até o dia em que Tom desiste de Summer.

    A narrativa usa de humor para grifar as distorções de Tom, como na cena do musical com passarinhos, reside nele uma ingenuidade típica de alguém em pleno transe romântico como o fato dele achar que só porque eles se afinizam nos gostos, isso significa um sinal de que foram feitos um para o outro. É interessante o fato de que quando ficamos obstinados por algo, tudo o que acontece e que por acaso se inter-relaciona com a nossa ideia, acaba contribuindo para confirmar essa tese; é como se inventássemos coincidências para reforçar nossa crença.

    Muitos consideram Summer uma vilã que brinca com os sentimentos do mocinho, mas o fato é que desde o começo a personagem não esconde que está ali apenas por curtição, e a pergunta que fica é: existe a obrigatoriedade de a mulher ser sempre romântica, ou necessariamente ser obrigada a corresponder um homem, só porque ele é uma exceção no quesito romantismo? A grande ironia é que todas as expectativas que Tom depositava em Summer acabam se materializando em uma relação dela com outro homem. Os paradoxos são extremamente comuns no mundo dos sentimentos: quem nunca esperou coisas de alguém, e posteriormente viu esse alguém agindo com outra pessoa exatamente da forma que você tanto esperava?

    4. Entre o amor e a paixão:

    Esse filme não traz exatamente uma novidade, mas o jeito que a câmera olha pras situações, as metáforas, e a trilha sonora; tudo esta ali para que você use um focodesembaçado na hora de observar a rotina daquele casal. A cena inicial mostra a personagem Margot (Michelle Willians) fazendo uma receita, detalhe por detalhe é mostrado, e na hora que o preparo é colocado ao forno, vemos a personagem ficar ali esperando até que ele asse, como se nada mais de importante estivesse acontecendo em sua vida. Essa cena funciona como um emblema de todo o enredo que será abordado dali a frente. O tédio, o cotidiano, a repetição, um marido que trabalha criando receitas a base de frango. Somos provocados a todo tempo por elementos irritantes (como a família histérica) e o propósito disso é justamente para que sintamos toda a carga de sentimentos que deixam Margot desgostosa com seu casamento.

    O mais curioso no filme é que Margot ama sim o marido, e propositalmente notamos que ele não faz nada de grave ou que justifique o desinteresse dela. E no mundo real, será que isso também não acontece? A náusea cotidiana que invade as relações pela falta de novidade, e de repente o casal se percebe vivendo apenas uma amizade. De certa forma, penso que às vezes subestimamos o outro, achando que sabemos o bastante sobre ele, e a partir dessa suposta segurança, o trato amoroso começa a se perder, a partir dessa oca certeza a relação caminha pra escassez da novidade, e o laço torna-se cindível.

    Entra então um terceiro elemento na relação, inicia-se um triângulo amoroso escateno – em que as medidas vão se revezando -, e se atirar a paixão é só questão de tempo. Daniel, o novo pretendente, traz a significância da liberdade, da vida ritmada, do corpo em dia, enquanto Lou, o marido, já entrou no piloto automático, deixou a barriga ficar saliente, e vive uma vida dormente e metódica preocupado com ”seus frangos”. E os pequenos detalhes de câmera viram gigantescos quando percebemos os diferentes jeitos que os dois homens olham para Margot: o marido a observa de um jeito acostumado e ao mesmo tempo distante, já Daniel parece se atentar a cada traço de seu rosto, como se um mundo novo e belo se abrisse aos olhos dele. “Entre o amor e a paixão” é no fim das contas um filme que fala da busca pelo sentido, pelo fogo, pela empolgação no outro, e que talvez deixe o amor como uma subcategoria que passa a ser desimportante quando não há intensidade na convivência.


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