• A culpa é sua – Por que repetimos os mesmos  erros em um relacionamento
  • A culpa é sua – Por que repetimos os mesmos


    erros em um relacionamento


    Quem nunca se viu em uma reprise mal escrita da novela mexicana amorosa que protagonizou no último verão?! Tudo parece se repetir tal e qual a última lembrança com exceção dos atores principais. Você é a mesma pessoa, já o outro é uma cópia mascarada daquele (a) que teria sido o culpado pelos caquinhos do seu coração partido, os quilos de chocolate ingeridos na noite de domingo e a chuva de lágrimas no colo do seu melhor amigo. Daí a gente culpa o karma, Murphy, o universo, o “dedo podre”, o bendito dia que resolveu ir à balada ou aquele seu amigo que te colocou em mais uma cilada, quando na verdade deveria se olhar no espelho e apontar um dedo bem grande para o próprio nariz. A responsabilidade pelo cinema vazio em pleno dia de estreia deste romance é exclusivamente sua.

    O déjà-vú amoroso é mais comum do que se imagina. Quando se percebe, estamos nos relacionando com os mesmos tipos de pessoas, com comportamentos semelhantes e carências internas similares. Em grande parte das vezes pessoas indisponíveis para relacionamentos, logo, com um potencial enorme de transformar um sentimento bonito em desgosto. Não demora muito, a sensação de já ter passado por aquela estrada, de ter desviado daquele obstáculo ou já ter chorado aquela dor aparece nítida no bolo repentino de sábado à noite. Daí a gente reclama, esbraveja, generaliza todas as intenções do universo e se pergunta mais uma vez porque sempre se relaciona com as pessoas “erradas”, quando na verdade a justificativa para isso tudo vem lá de dentro da gente. Perspectiva e realidade são duas vertentes difíceis de serem separadas e compreendidas. Assim como renúncia e desapego. O fator comum entre todas: a carência. Se nossas mágoas e frustrações passadas não estiverem bem resolvidas dentro do nosso presente, a tendência é que os mesmos caminhos sejam percorridos em uma tentativa inútil de equilibrar a vivência e claro, preencher nossas expectativas.

    Essa busca desenfreada por alvos impossíveis e a contínua insistência em relacionamentos frustrados é o reflexo claro das nossas fragilidades. Um conjunto de ressentimentos, dores, mágoas e um monte de sentimento mal resolvido que acaba se materializando em uma procura desgastante de algo que na verdade ficou perdido no passado. O ego ferido é o principal vilão dessa história toda, porque é fruto de uma perda que não foi bem processada pelo coração da gente e que motiva de certa forma esta autoflagelação. A mente precisa repor uma estima que foi negligenciada e canaliza esse descaso que não foi bem assimilado em cima de pessoas que não estão disponíveis emocionalmente. Às vezes até estão, mas não são capazes de suprir a demanda emocional pesada que o coração está exigindo. Quase como uma compensação, como se a gente precisasse provar pra gente mesmo que é capaz de conseguir aquilo que “acha” que deseja. Então, começa a investir no cara que tem namorada, na menina que está de mudança para o outro lado do globo e em fulano que ainda gosta da ex. O resultado disso é dor e sofrimento sendo continuamente alimentados por uma urgência pessoal e intransferível: nossas carências.

    Não adianta bradar ao mundo que deseja um relacionamento feliz e saudável se continuar mergulhando de cabeça nos mesmos papos furados de sempre. Concordo que amor não se escolhe. Mas uma coisa que a maturidade ensina é que cair no mesmo buraco duas vezes é burrice. Bem como diz o ditado do gato escaldado. A gente sente quando uma história é duvidosa e não é recíproca. O apito do coração aciona na hora o alarme de “mantenha distância”. Acontece que a gente ignora os sinais do outro, do universo e do nosso próprio subconsciente que deveriam nos privar de mais uma decepção amorosa e simplesmente negligencia aquilo que existe de mais importante: nosso amor próprio. A consequência drástica disso é um círculo vicioso de relações negativas que de nada acrescentam à nossa vivência ou, melhor dizendo, que apenas minimizam as chances de um encontro integralmente real.

    É preciso aprender a viver todas as dores no momento exato em que elas acontecem. Deixar doer o que tiver que doer, refletir de cabeça fria em cima daquele sentimento para só então seguir adiante de cabeça erguida e coração tranquilo. Sem remorsos, sem frustrações, sem rancor ou meias verdades. Dedo podre e relacionamento unilateral só existem pra quem não está em paz consigo, suas convicções e suas vulnerabilidades. Transformar fragilidades em experiências ao invés de reprises. Parcerias de bases sólidas só se firmam quando existem dois inteiros. Afinal, quem gosta de migalha é formiga e ainda arrisco dizer que pelo menos as da minha casa andam bastante exigentes.


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