• Eu não sinto o mesmo que você – Pelo direito  de dizer não ao sentimento do outro
  • Eu não sinto o mesmo que você – Pelo direito


    de dizer não ao sentimento do outro


    Eu não posso retribuir o seu sentimento. Simples, claro, direto e resoluto. A gente passa a vida toda esperando alguém delicadamente tocar nossa essência, despertar aquela vontade de abandonar o lugar comum, as roupas antigas, o velho hábito de sorrir sozinho e quando finalmente uma pessoa bacana cruza nosso caminho, o sininho não toca, a gente apenas não consegue corresponder. A pessoa é sensacional, você também é, o universo inteiro conspira a favor deste relacionamento, sua mãe aprova, seus amigos fazem figa, mas o brilho no olhar, a ansiedade da chegada e a angústia da despedida simplesmente não aconteceu. É difícil encarar a verdade e deixar isso claro sem magoar, ferir ou entristecer a vivência do outro. Mais complicado ainda é resolver o emaranhado de sentimentos dentro da gente que muitas vezes não consegue desapegar desta possibilidade tão esperada de amor. Sofre quem espera, mais ainda quem precisa partir.

    O fato é que poucas coisas na vida são tão dolorosas quanto a expectativa de uma reciprocidade. Ser marionete do silêncio ou da omissão do outro com os nossos sentimentos é tão desgastante emocionalmente que transforma na maioria das vezes um amor tenro e bonito em uma lamentável tormenta. A falta de jeito e de coragem de abrir o jogo, colocar as cartas na mesa e dizer no grosso da palavra o que precisa ser dito faz muita gente postergar esse corte de laços antes mesmo que eles virem nós. Afinal de contas é absolutamente lisonjeiro e encantador ter por perto uma pessoa que preenche de delicadezas e permanência nossos dias. Alimenta o ego e faz cafuné quentinho no coração cansado de tanto descaso e desistência deixado pelo caminho, finalmente ser tratado com fineza. Daí a gente adia a bifurcação de travessias. Espera o apego ser solidário e devolver para o mundo um carinho que ele não pode retribuir. Contudo, quanto mais o tempo passa, mais expectativas se criam em cima da pessoa, do sentimento e do futuro daquele romance.

    Infelizmente não existe uma fórmula milagrosa capaz de diminuir o vazio do “não”. Ter um sentimento não correspondido dói mesmo, machuca lá no fundinho da alma. Mas passa. Dor mesmo, no ruído ensurdecedor da palavra, é aquela que a gente sente quando descobre que está preso a uma circunstância por pura conveniência do ego do outro. Quando se percebe refém da indecisão e covardia de alguém que mantém um fio de amor enrolado no dedo por mera carência ou medo da solidão. Seja um paquera, um flerte, um relacionamento de dias ou de anos, se você não sente mais a mesma coisa por quem está ao seu lado ou por aquele que está pedindo um espaço na sua vida, o mais justo e delicado a se fazer é ser sincero com ambos os sentimentos. Soltar as amarras de um apego que não cabe na nossa vivência para permitir um encontro recheado de constâncias para as duas partes envolvidas.

    Amor não é algo que se possa comprar, conquistar ou barganhar. Ou ele floresce, ou não. Simples assim. Ter respeito pelo sentimento, pela vulnerabilidade e pela fragilidade daquele que está ali oferecendo um afago tão puro ainda é a melhor forma de minimizar o sofrimento e o embaraço de uma exposição emocional tão grande. Estar do lado de lá é um ato de extrema coragem. Essa bravura a gente pode e deve retribuir na mesma moeda. Restituir de forma transparente para o universo um amor que não encontrou morada no coração da gente é abrir portas e janelas para um passarinho novinho em folha tentar construir um ninho. E o mais importante de tudo: é devolver para o outro a chance de cruzar a travessia de um coração realmente passível de reciprocidade.

    Você não sente a mesma coisa e um dia, com o tempo, ele (a) também não vai sentir mais. A culpa não é de ninguém ou talvez seja do maldito timing que não sincronizou os ponteiros deste relógio. Que esse carinho hoje não correspondido se transforme em uma doce lembrança de um coração que poderia silenciar e aprisionar, mas, ao invés disso, decidiu incentivar o voo de um sentimento que não nasceu para viver cárcere de uma expectativa e sim livre para pousar em galhos sólidos: o amor.


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