• De Mãos Dadas Com A Confiança – Sobre O  Melhor Presente Que Se Pode Dar A Alguém
  • De Mãos Dadas Com A Confiança – Sobre O


    Melhor Presente Que Se Pode Dar A Alguém


    Engraçado como certos acasos do universo despertam um “sei lá o quê” de engrandecimento dentro da gente, que nos fazem repensar sobre questões bem maiores do que aquelas presentes no alcance do nosso entendimento. Hoje, observando um pai atravessar a rua de mãos dadas com sua filha, percebi o quanto somos tão mais corajosos quando crianças. A menina de sorriso leve e doce acreditava no timing perfeito daquele homem barbudo para quem ela dava as mãos, de que aquele seria o momento seguro de se atravessar a rua. Sem pestanejar, repensar ou titubear, a menina atravessa seu caminho cantarolando e sorrindo, sem nem ao menos olhar para os lados. Muito mais do que a personificação do ser paternal, aquele homem era digno da inteira e total confiança dela. Nessas horas pondero sobre o quanto confiar em alguém pode ser extremamente perigoso e, nessa doce dualidade, absolutamente reconfortante.

    As relações hoje em dia são fundamentadas em valores que transpassam em muito os delicados limites do amor. Relacionar-se com quem quer que seja vai muito além de simplesmente desenvolver sentimentos por alguém. Empatia, paixão, apego, química, laços sanguíneos, fraternos e de livre-arbítrio, amizade, afinidade, vontade, de nada amparam a parceria se o alicerce fundamental não estiver presente: a confiança. O fato é que a gente se deixa conhecer, cativar e merecer para só então presentear o outro com a dádiva de confiar. Não existe confiança à primeira vista, simples assim, no silêncio de um olhar. Tudo é decorrência direta de um encontro bem consolidado. A gente abre a porta e oferece a chave daquilo que nos é tão precioso: nossa vivência. Entra quem tem bom tom, quem tem vontade, quem tem coração cheio de querer bem (ou pelo menos deveria ser assim).

    Quebra de confiança é coisa séria demais. Talvez pelo longo caminho que o sentimento percorre até atingir o completo estado de entrega, talvez pela exposição de um pedaço da alma da gente ao qual só pessoas realmente especiais conseguem ter acesso. Confiança vai muito além do respeito. É praticamente um elo invisível entre você e o coração do outro. Um par de mãos dadas dizendo “vem comigo, vem sem medo, vem por inteiro que aqui a entrega é verdadeira, é mútua, é cúmplice”. Quando esse elo é quebrado, quando o tijolo mais valioso é retirado da base do edifício, todo o resto entra em ruínas por consequência. Como se alguém despreocupadamente bagunçasse e revirasse tudo aquilo que demorou anos para ser cuidadosamente organizado. Clichê, porém indubitavelmente verídico: uma vez que a confiança se quebra, é praticamente impossível que o vínculo volte a ser o mesmo de outrora. Igualzinho vaso quebrado mesmo. A gente cola todos os cacos, porém, as rachaduras, os estilhaços menores que não podem ser recompostos, esses ficam ali para sempre relembrando que aquele equilíbrio foi bruscamente rompido e causou algum dano àquela peça que antes servia de abrigo para uma flor. Por isso que sentimento a gente só divide com quem tem mérito. Amor desarrumado reflete em todas as prateleiras da vida, sem contar que dá um trabalho danado colocar cada suspiro em seu devido lugar de origem.

    Felizmente, a delícia de estar vivo e de estar dotado de essência, de amor-próprio e de coragem faz com que um monte de sentimento bacana procure compensar os cacos perdidos, enfeitando o vaso trincado com um colorido laço de perdão. A beleza do enfeite pode de fato não ser mais a mesma, mas nada que um pouco de água, luz do sol e abraços para transformar um terreno inóspito em abrigo de um jardim a florescer. A cena daquela manhã de quarta-feira chuvosa me fez entender a importância de se presentear alguém com confiança. Entre todos os requintes de delicadeza que podemos dividir com quem está ao nosso lado por escolha, saber entrar e saber sair da vivência do outro é sem sombra de dúvidas o maior deles. Não dar de bandeja o melhor sorriso, o melhor caminho, a mais profunda crença. Mas sempre que possível retribuir, sim, o olhar pra quem merece. Atravessar a rua cantarolando, de mãos dadas com quem faz a travessia na mesma direção e agarrando forte na alma da gente é que nem abraço de pai e mãe – seguro, encantador e faz um bem danado para a saúde e para o coração.


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