Ele era um cara bonito. Sabia falar a coisa certa na hora certa, se vestia bem, olhava nos olhos quando conversava e tinha um sorriso sincero. Não era de parar o trânsito – afinal, quando o trânsito resolve andar aqui em São Paulo, a gente tem que aproveitar e meter o pé no acelerador. Mas, sem sombra de dúvidas, arrancava olhares e viradas de pescoço quando passava por entre as baias do escritório. Principalmente quando usava aquela gola V – da qual eu sou absolutamente suspeita pra falar – ou quando se sentava assim, com a perna cruzada que nem homem, e vinha perguntar se alguém precisava de ajuda. Muito agradecida, mas só a sua presença já resolve quase todos os problemas por aqui.
Ele era um cara bonito, mas tinha um grande defeito: sustentava um relacionamento infeliz. Daqueles em que não atender a um telefonema na hora do almoço já é motivo para crise e greve de sexo. Daqueles em que sexo é moeda de troca – só transo se você me trouxer uma caixa de bombons. Daqueles em que um anula a presença do outro, em vez de brilharem juntos – no bar com os amigos dele, ela reclama de tudo e faz cara de poucos amigos; no queijo e vinho com os amigos dela, ele prefere ficar no celular. Daqueles em que a briga é constância, e consequentemente fazer as pazes vira o programa mais divertido do casal – um passeio, um dia de sol juntos ou um filminho debaixo das cobertas de nada valem. Até porque não existem já faz uns dois anos, pelo menos. Sabe aquele relacionamento doente, em que a mentira se torna inevitável para evitar mais uma crise sem fundamentos?
Eu não sei. E espero que você também não saiba. Mas caso souber, meu amigo, me avisa. Me avisa, pega uma cervejinha na geladeira e lê esse texto até o final. Quem sabe você não toma coragem? Porque se amar é para os corajosos, assumir o desamor é para os mais corajosos ainda. Há tanta, mas tanta gente que se perde na comodidade… Afinal, quem vai fazer cafuné – mesmo que com má vontade – nos cabelos que você lava com tanto shampoo e hidrata com tanto carinho? Pra quem você vai ligar todas as noites para contar como foi o seu dia, mesmo que no final da ligação haja aquela briga homérica só porque você ficou no happy hour da empresa até mais tarde? Com quem você vai passar seus domingos chuvosos – é preciso de uma companhia não para conversar, escutar um som ou trocar uns beijinhos carinhosos, mas para assistir ao Domingão do Faustão, não é?
Não, amigo. Sinto lhe dizer que o que falta na sua vida, além de #1minutodecoragem para mudá-la, é amor-próprio. Porque se você precisa tanto de alguém, nem que seja um parasita ou um relacionamento destrutivo, presume-se que você não suporta a sua própria companhia. Que não aguentaria fechar a porta do quarto, abrir a do coração e escutar seus fantasmas. Ou ir ao fogão, cozinhar um brigadeiro e curtir a própria companhia enquanto assiste a um filme mamão-com-açúcar. Ou se olhar no espelho e admirar todas as qualidades e defeitos que compõem quem você é.
Como já dizia o poeta, o tempo não para. Então já passou da hora de você ter #1minutodecoragem, deixar a comodidade de lado e investir no amor-próprio. Porque quando se tem amor-próprio, é impossível se contentar com a infelicidade. Afinal, de que adianta ser um cara bonito, mas não ser um cara feliz?