• Mãe É Mãe – Uma Análise  Sobre O Amor Mais Verdadeiro Do Mundo
  • Mãe É Mãe – Uma Análise


    Sobre O Amor Mais Verdadeiro Do Mundo


    Eis que um dia você chega. E entra na vida dela sem lhe dar a menor chance de escolha. Põe o pé na porta e, absoluto, diz “sou eu ou sou eu”, num ímpeto que, de tão egoísta, chega a ser quase ditatorial. E ela, um pouco acuada, estende-lhe os braços trêmulos para enfim acolhê-lo num abraço quente, (e)terno e infinito. Nenhum de vocês se preparou para esta noite. Você não trouxe vinho. Ela não vestiu a melhor roupa do armário – e muito menos vai lhe pedir licença para retocar o rímel no clímax daquela conversa. Você não preparou discursos sobre a física quântica e a atração dos corpos para impressioná-la. Mas ali, naquele caloroso e confortante abraço, vocês mal sabem que selaram o mais incondicional amor desse mundo: o amor entre mãe e filho.

    Dizem por aí que mãe é tudo igual – só muda o endereço. Eu, sinceramente, acho que esse é mais um daqueles mitos que as más línguas inventaram na tentativa de tornar o planeta Terra um destino um pouquinho mais agradável e visado nas temporadas de férias espirituais. Porque, se todas elas tivessem sido criadas à imagem e semelhança da minha, ah, então esse mundo seria o lugar mais lindo do mundo. Guerras existiriam, é claro. Mas desarmadas e só por causa de banhos com mais de quinze minutos de duração. O pedido de trégua vem no melhor arroz e feijão do universo. Crises também existiriam. Mas só por causa da toalha molhada em cima da cama e do recado não dado sobre aquele telefonema importante. Pra compensar, um sorriso de orelha a orelha e um beijo carinhoso a cada volta pra casa. O medo também marcaria presença. Mas não de baratas ou de violência – palavra essa, inclusive, que deixaria de existir por desuso. O alvo do nosso medo seria tão somente a impossibilidade de ser feliz.

    Porque a felicidade de uma mãe de verdade está atrelada à dos filhos. Por mais que ela não concorde, por motivos coerentes ou estúpidos, com suas orientações ou com a estrada pela qual você decidiu seguir, ela será igualmente feliz quando entender que você só faz o que o faz feliz. Se ela abdicou do próprio tempo para ter tempo de ensiná-lo a andar, é porque, de certa forma, ela lhe deu a chave para a liberdade e quis que você trilhasse o seu caminho com os próprios pés. Se ela abriu mão do tão sagrado sono para fazê-lo dormir em paz, é porque ela nunca quis que nenhum pesadelo assolasse a sua tranquilidade. Se ela deixou de lado a vaidade para que você pudesse estar nesse mundo, é porque ela sabe que vaidades podem fazer ruir castelos.

    Por isso, meu amigo, pode parar de procurar. Se você, como eu, tiver a sorte de ter tido uma mãe no sentido mais pleno da palavra, é sinal de que já encontrou a sua alma-gêmea. Ou você ainda acredita que um dia, enquanto toma uma cerveja despretensiosa numa quinta-feira à noite, encontrará a parceria ideal e hollywoodiana naquela mocinha naturalmente ruiva, com a pele salpicada de sardinhas e apaixonada por música britânica? Talvez ela possa ser uma boa companhia para combater a solidão típica dos domingos à tarde. Uma boa transa. Uma boa oponente quando o assunto é discutir políticas públicas. Uma boa pessoa. Uma boa mulher para ter ao lado nos bons e maus momentos e até uma boa opção para se juntar os trapos e construir uma vida a dois. Mas alma-gêmea… This is bullshit. Alma gêmea é aquela que está conectada a você por mais do que um bom sexo ou um bom cafuné. E jamais acordará o amando menos hoje do que amou ontem. Independente de quantas toalhas molhadas você tenha deixado sobre a cama. Independente de quantos namoros furtivos você tenha tido. Independente daquele porre vergonhoso que você tomou no final de semana passado. Independente daquela tatuagem que você fez escondido. É, camarada. Mãe é mãe. E quem vai dizer que não?

    *Texto originalmente publicado em Donnatune


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