• Relações-Conchinha –  Uma Discussão Sobre O Egoísmo Entre Casais
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    Uma Discussão Sobre O Egoísmo Entre Casais


    Nunca fui fã de conchinhas. Tremia todo sempre que lia alguma associação da posição associada ao romantismo de milhares de casais. O altruísmo da coisa toda é sempre exaltado pela literatura romântica – o coitado (ou coitada) que serve de concha e abraça o outro num ângulo extremamente desconfortável, justificando as cãibras por amor. Acordar várias vezes de madrugada por não conseguir seguir numa posição incômoda enquanto o outro dorme profundamente, acompanhado de formigamento no braço e torcicolo na manhã seguinte. A cena pode até ser bonita em redes sociais e seriados de TV, mas revela uma porção bastante egoísta de um bando de gente.

    Antes de provocar reações acaloradas, quero deixar claro que eu não repudio as conchinhas – desde que haja um revezamento. Num dia um faz esforço, no outro é a sua vez. E assim caminha a humanidade e a boa dinâmica do que a gente chama de amor. Porque por mais banal que possa parecer, a maneira como você e o seu parceiro lidam com a conchinha demonstra muito sobre vocês. Se o sacrifício, ainda que altruísta, é praticado por apenas uma das partes, eu ousaria dizer que a coisa toda tá bem errada, viu? Essas relações parecem bonitas de longe e são feitas nos moldes dos filmes que você assiste de mãos dadas no cinema. Você, a concha romântica, com a sua pérola preciosa. Brega, mas romântico. Você, que se dispõe a sair da sua zona de conforto por horas, dias ou anos pra agradar o outro sem intenção alguma de retribuição a não ser o sentimento recíproco que todo mundo espera do outro. Você, que não percebe movimento algum da pérola e acha isso normal.

    Cá entre nós, saindo exclusivamente do âmbito da conchinha, você acha mesmo normal ser a única pessoa que se sacrifica numa relação? Nem precisa pensar em níveis de sacrifício, mas existem outras formas de expressão que não essa relação de via única entre concha e pérola. Todo mundo, sem restrições, sente a necessidade de cuidar e ser cuidado. O poder e a sensação de força são aliados à segurança e ao bem estar nessas duas ações de proteger e ser protegido. Se você desenvolve apenas uma delas, a outra fica ali cutucando, abrindo ferida, infeccionando até não dar mais pra fazer vista grossa e passar batido. Falta de reciprocidade incomoda porque amor sozinho não constrói nada. Quem ama sozinho é solitário. Quem vive amor por dois é mártir.

    Relacionamento bom é aquele que vive de trocas de posição não só na cama. É preciso movimento das duas partes pra que ambos exerçam sua dupla função de concha e pérola. Pra que ambos reconheçam no outro bons motivos pra ficar e aguentar uma dorzinha nos músculos de vez em quando porque sabe que o outro faria o mesmo. Se você vive uma dessas relações-conchinha, independente da posição, chega uma hora em que o seu braço – ou da outra pessoa – cansa de servir de apoio isolado, a coluna dói, a perna formiga e começa a bater aquela sensação de que se viveria melhor e mais à vontade sozinho. Porque se é pra aguentar tudo nas costas, sem ter um braço companheiro te envolvendo ao lado, que se tenha pelo menos uma boa e confortável noite de sono.


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