Não é incomum ouvir pessoas afirmando que a época da censura está acabando e que, dia após dia, expressar-se, sobre qualquer assunto, está se tornando algo mais fácil. Concordo. Plataformas como o Facebook, por exemplo, diferente das mídias antigas como a televisão, deixam a programação nas mãos do usuário e dificultam a vida daqueles que tentam impedir a propagação de alguma ideia. As redes sociais, grandes responsáveis por essa popularização do discurso, vieram para dar voz ao desconhecido e para permitir que qualquer um, sem exceção, tenha a chance de expor aquilo em que acredita. Isso é ótimo. Claro que é. Porém, estranhamente, o mesmo movimento tecnológico e social que deu o microfone para o homem comum, em alguns muitos casos, também tem criado o palco para os que confundem opiniões com atos preconceituosos.
Claro que sou contra qualquer tipo de preconceito e que concordo com as atitudes feitas para combatê-lo, mas percebo que muitas pessoas estão confundindo coisas e apedrejando opiniões quando, na verdade, deveriam gastar energias estapeando os verdadeiros inimigos. As mesmas plataformas nos deram chance de opinar e de discordar da opinião alheia, graças aos estupidamente corretos e aos seres que não sabem diferenciar o preconceito real de gostos pessoais, têm se tornado local no qual se expressar está cada dia mais arriscado. Basta escrever algo como: “eu não sinto atração sexual por mulheres que pesam mais de cem quilos” e, rapidamente, como piranhas ansiosas para estraçalhar o boi que caiu no rio, milhões de comentários surgem para afirmar que o dono da opinião é “gordofóbico”, serial killer com mestrado em obesos, defensor da raça esquelética e que merece ser jogado em um incinerador. E isso está virando um saco. Se ele pode dizer, sem ser punido, que não gosta de sucrilhos, qual motivo o tornaria um vilão por simplesmente falar que não sente atração por gordinhas? Baixem as armas, por favor. Tirem os dedos do gatilho. De violência, já basta todo o resto. Até entenderia e, provavelmente, ajudaria no linchamento virtual, se ele falasse algo como: “não aceito currículos de gordas” ou “se eu atropelasse uma balofa, omitiria socorro”. Porque veria nessas afirmações um imenso potencial de criar humilhação e incentivar situações de disparidade social. Mas qual o problema de expormos nossos gostos e de fazermos deles nossas impressões digitais?
Eu mesmo, vez ou outra, percebo que estou removendo opiniões dos meus textos por medo de ser confundido com algo que não sou – ou melhor, que não disse e sequer deixei subentendido. Por pavor de ser colocado no mesmo saco no qual monstros como Hitler merecem estar. Só porque o mundo está cheio de gente disposta a achar pelo em ovo e preconceito nas entrelinhas das entrelinhas. Não é justo. Deixem-me opinar em paz. E, quando discordarem de mim, por favor, opinem, pois também os deixarei comentar em paz. Apenas não sejam haters que se baseiam no que eu não disse para dizer que o que disse me torna um bandido. Aceitem e se sintam felizes por não sermos iguais e por não gostarmos das mesmas coisas. Se não quiser, não leia meus textos, mas, se quiser lê-los, vá até o ponto final e respeite as nossas diferenças.
Sabe o mais incoerente disso tudo? A censura, diferente daquela que ocorria na época da ditadura, tem sido feita por pessoas comuns, e não mais por políticos e militares. A censura, nos dias de hoje, ironicamente, é fruto da liberdade conquistada, aniquila opiniões e age disfarçada de direito de expressão. Ora, se todos têm direito de expressar, não vejo motivo para punir aquele que tem coragem de dizer aquilo que ninguém diz. Sim, as mesmas redes sociais que deram voz aos desconhecidos nos fizeram conhecer a voz daqueles que julgam as opiniões de modo preconceituoso.
Vamos dar um passo à frente! Vamos evoluir, meus caros. Conquistamos o direito da fala livre e não podemos fazer dessa vitória motivo para a geração de um silêncio indesejado e razão para um mundo no qual só o unânime é correto. Não comece com o pé atrás, sedento por apenas um motivo que lhe sirva para descontar o ódio que reteve aí dentro. Não procure inimigos em tudo e não pode a coragem daquele que bate no peito e afirma não amar aquilo que todos amam. Vamos dar um passo à frente, já!
Por fim, gostaria de deixar aqui uma última OPINIÃO: “ODEIO GENTE QUE ATIRA PEDRAS SEM LER ATÉ O FINAL!”. Pena que eles não lerão.