• Sexo É Felicidade. Dê Uma Chance À Sua.
  • Sexo É Felicidade. Dê Uma Chance À Sua.


    Eu gosto de sexo. Eu pratico sexo. Eu respiro sexo. Eu transpiro sexo. E quem sabe, a gente não pudesse gostar, praticar, respirar e transpirar juntos… Eu aconteço todos os dias, 24 horas, nas esquinas da sua vida. Você sai de casa, e eu estou no ponto de ônibus. Você enfim toma o ônibus, depois de ser salpicado pela garoa gélida dessa metrópole desumana, e eu estou no primeiro assento do lado esquerdo. Você salta do ônibus, um pouquinho amassado e atrasado, e eu estou na portaria do seu prédio comercial, chorando de desgosto ao notar quão engravatadas as pessoas andam nesse país tropical de meudeus, sem perceber que isso foi hábito importado – e muito mal importado – das Europas. Você entra no elevador, eu faço meus bicos de ascensorista. Mas os clássicos da coletânea indie 2000 tocando no seu fone de ouvido são tão mais digeríveis que você não dá uma chance sequer. Uma única chance à felicidade – você recusa.

    Porque sexo é felicidade, e quem vai dizer que não? Talvez a sua vizinha religiosa, que ouviu alguém pregar que não se deve praticar nem oral nem anal por ~questões de índole~. Ou talvez os seus pais, temendo que você enfim descubra os prazeres da vida e perca a virgindade – o que eles mal sabem, mas aconteceu antes mesmo de você perder a chave do carro pela primeira vez. Talvez a sua avó que, sexualmente, nunca representou nada além de um buraco para o seu avô fincar a estaca e fazer lindos filhos para desfrutarem do Welfare State. Ou talvez a professora do ginásio, deixando que o medo de que as mais desavisadas engravidassem na primeira vez transcendesse uma linda e importantíssima quebra de tabu. Mas quer um conselho, lindeza? Faça quando tiver vontade. Assim mesmo. Sem medo de fazer demais, sem medo de fazer de menos. Sem medo de fazer por amor, sem medo de fazer por puro prazer. Sem medo de fazer às claras, sem medo de se perder nas entranhas escuras da noite.

    Noite essa em que você olha para o céu e aprecia tão somente as Três Marias e o Cruzeiro do Sul, sem perceber que eu aconteço na barraca de pipoca, comprando um saquinho pra dois. Aconteço de novo na saída do cinema, esperando que o meu filme acabe com um “que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure” no lugar de um “felizes para sempre”. Aconteço na mesa do bar mais sujo, me violentando a cada vez que peço a cerveja para mim e a vejo ser entregue para o macho viril da mesa. Mas você continua olhando as estrelas, como se a companhia delas fosse mais digna do que a minha – afinal, elas não usam minissaia, não falam palavrão e têm câimbra ao dançar até o chão, então preferem evitar a fadiga.

    Eu sei que você sabe que a gente poderia ter tido um sexo fenomenal. E – por que não? – uma vida fenomenal. Bebendo vinho às sextas, saindo com os amigos aos sábados, dormindo de conchinha e sem hora para levantar aos domingos, discutindo políticas de erradicação da pobreza às segundas, tocando um Vinícius ao violão às terças, cozinhando um baião de dois às quartas e assistindo a um Tarantino às quintas. Mas moças que dão na primeira noite não são nem pra dias da semana, quiçá pra vidas. Então você finge que não me vê, porque deseja desejar a beatinha, enquanto sou eu que poluo os seus pensamentos.

    Mas tudo bem. Se sexo realmente é vida, como já dizia o Boston Medical Group ou BMG – aquela clínica de tratamento para disfunções sexuais e que coincidentemente (ou não?) carrega as mesmas iniciais do meu nome –, consigo chegar à última fase do Super Mario Bros, de tantas vidas que espero conquistar ao longo dessa. E até lá, hei de libertar algum príncipe preso na torre de um castelo e convencê-lo de que um bom boquete não é sinal de mau caráter. De que uma saia três palmos acima do joelho não é chave de cadeia. De que uma mulher liberal também tem coração transbordante e uma voz apaixonada que pode lhe cantar ao pé do ouvido aquela canção do Clube da Esquina. De que fidelidade é absolutamente compatível com safadeza, sim, senhor. Enfim, de que eu posso estar nua, mas coberta de razão, assim como Leila Diniz quando afirmou: “eu posso dar para todo mundo, mas não dou pra qualquer um”. E se você é feliz por ser moralista, meu benzinho, hoje eu sou feliz por ser aquilo que vocês insistem em chamar de vadia.


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