• Fat Pride – Pelo Direito de Ter Dobrinhas
  • Fat Pride – Pelo Direito de Ter Dobrinhas


    Eu sou gordinha. Não gordinha, como aquela sua amiga magérrima diz que está depois de pular a cerca com um muffin bem recheado. Gorda mesmo, bem gorda. Peso 125 quilos muito bem distribuídos em um metro e 67 centímetros de uma morena bastante simpática. Ih, peraí. O marido deu bronca. Disse que eu não sou gorda, eu tenho dobrinhas mais gostosas que as das outras mulheres.

    Venho propor um manifesto, pela liberdade dos nossos quilos a mais. Pouquíssimas mulheres teriam coragem – e até hoje muita gente treme na base – na hora de dizer seu peso em voz alta. Mas agora, aparentemente, as gordinhas estão na moda. Ou não. Eu sou da opinião pessimista de que, quando se trata de aparências e padrões, o mundo é sempre burro e sem imaginação.

    Enquanto puderem, as mulheres vão continuar tentando caber no vestido mais curto, justo e decotado que encontrarem pela frente. E vão ter pesadelos que envolvem o mundo descobrindo seu verdadeiro peso. Por mais que tente se valorizar, uma mulher quando se olha no espelho, está valorizando apenas aquilo que a sociedade acha que é bonito nela. Está reafirmando um padrão de beleza magro e, deixe-me dizer, bastante sem graça. Qual é o interesse de se ver sempre as mesmas caras, as mesmas roupas, as mesmas bundas entre as mais desejadas?

    E a parte triste dessa história é que essas imagens afetam profundamente a vida de mulheres reais, que estão por aí tentando chegar ao fim do dia sem se odiar. Momento desses, conheci uma mulher, de 27 anos, completamente virgem. A moça pesa mais de 100 quilos e nunca teve um namorado na vida. ‘Claro, coitada, nunca deve ter tido oportunidades, cresceu afastada dos garotos!’, disse outra conhecida quando soube da história. Muito pelo contrário.

    A gordinha é muito bonita, extrovertida, tem papo bom, gosta de vários assuntos, sabe atrair as pessoas. Já teve três namorados sérios, foi bastante apaixonada por dois deles. Mas com nenhum teve coragem nem de tirar a roupa. Por mais que eles insistissem, estivessem loucos de tesão, acendessem uma vela para que ela liberasse a ida ao motel, nem com reza brava. Ela diz que, por mais que ouvisse que era desejada, nunca conseguiu acreditar. Achava um absurdo impossível que alguém pudesse sentir tesão por ela. Sendo assim, ela mesma nunca sentiu.

    E você pensa que é uma imposição dos homens? Que o mundo masculino é uma ode ao osso-e-pele? Claro que não. Eu já recebi todo tipo de cantada de homens que gritavam pro mundo o quanto a Gisele Bundchen era o tipo de mulher ideal – e terminavam a noite de olho naquele meu decote poderoso que toda mulher de respeito tem no armário. A libertação de gritar ao mundo seu próprio peso tem que  sair das mulheres, porque esse tipo de julgamento parte da gente.

    Daí o tom de inveja preconceituosa que eu ainda vejo – abismada – no olhar de uma ou outra por aí. Solteira há muito tempo, sem perspectiva de achar ninguém, mas acendendo cada vela a Santo Antônio que cruza o caminho, sabe? Todo mundo conhece uma recalcada de carteirinha. A mulher que olha com aquele tipo de surpresa esquisita quando descobre que eu sou casada há dois anos, com o gordo mais incrível desse mundo, aos 25 anos e 127 quilos. Sim, 127. Engordei dois desde o começo do texto, porque hoje é dia de pizza aqui em casa. Ou você acha que eu já nasci com essas dobrinhas gostosas?

    Imagem via Spartacus Breches / Divulgação


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